'Disforia' insere o cinema nacional no circuito do Terror Psicológico | 2020
NOTA 6.0
Por Rafael Yonamine @cinemacrica
Traumas pessoais envolvendo a esposa afastam Dário do exercício profissional. Contudo, após o convite da colega de profissão, o psicólogo aceita voltar a atividade para cuidar do caso de Sofia, uma garota de 9 anos. Os paralelos familiares entre Dário e a família da nova paciente são imediatos, a apatia decorrente de choques emocionais passados são comungados pelos personagens. Mas, o traço mais inquietante dessa nova conexão é a instabilidade emocional que Sofia exerce sobre Dário.
A proposta desse suspense com elementos de terror psicológico é a de instigar a origem do desconforto que a garota gera no seu psicólogo. A linha adotada pinça algumas anormalidades para subsidiar a audiência com insumos para a formulação de hipóteses: a garota não vai para a escola e tem aulas particulares, o pai da paciente carrega um semblante trágico, o desconforto da relação paciente-terapeuta leva Dário a devaneios onde sua imaginação o coloca numa banheira de sangue.
Apesar de minimamente interessante, os elementos se desenvolvem ao custo de um apego desmedido ao roteiro. A proposta é a de insinuar, mas a prática não oferece mais do que o encadeamento de episódios que apenas seguem o que está escrito, não há inventividade. Em dado momento, o transtorno do protagonista o leva a delegacia por má conduta, o que inviabiliza o exercício da profissão. Considerando que Dário e Sofia estavam num processo de construção de afinidade, o revés seria presumivelmente negativo para a paciente. Dentre as tantas possibilidades que o olhar do diretor teria para alavancar o episódio, segue-se o rigor estéril de apenas apresentar o fato: criança olhando vagamente pela janela de um lado, o pai simplesmente comunicando a notícia do outro. Ou seja, o sabor amargo é imposto e não derivado de alguma experimentação elaborada.
Mesmo atraindo a atenção da audiência ao custo da falta de espontaneidade, o desenrolar do jogo de insinuações não se afunila com excitação. O exercício de elucidação simplesmente não empolga, seja pela negligência em pontuar elementos chave de forma balanceada onde há acúmulo no desfecho, seja pela ausência de criatividade em expor ideias.
Vale Ver Mas Nem Tanto!
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