Em 'Abe' Seu Jorge vive chefe de cozinha em trama leve e despretensiosa | 2020
NOTA 8.0
Por Rogério Machado
Abe é Abraham, que pode ser Ibrahim, depende de quem o chama, mas ele sempre vai preferir que você o chame de Abe.... Começar meu texto dessa forma pode soar bobo, mas na minha concepção diz muito sobre o conflito de etnias, tema que é abordado no novo filme do cineasta Fernando Grostein Andrade ('Coração Vagabundo' -2009), co-produção Brasil/Estados Unidos que tinha previsão de estreia nos cinemas no primeiro semestre desse ano.
No longa, Noah Schnapp , (o Will de 'Stranger Things' ) é um garoto de 12 anos que é metade judeu e metade muçulmano, e em função disso, nunca teve um jantar em famÃlia que não acabasse em confusão. O garoto tem grande talento e interesse por sabores e culinária, e em uma de suas andanças por Nova York para pra conhecer uma feira gastronômica, Abe conhece Chico Catuaba (Seu Jorge), um chef afro-brasileiro mestre em fusion food. Depois de muita insistência por parte do menino, seus pais decidem matriculá-lo num curso de verão de culinária para crianças, mas chegando lá ele descobre que a faixa etária é muito abaixo da dele e que as aulas estão muito aquém de sua capacidade. É aà que ele decide fugir das aulas, e começa então a frequentar a cozinha de Chico para receber a mentoria dele na arte de misturar sabores.
Por viver o conflito entre Palestina e Israel bem no meio da sua mesa, e ter paixão pela culinária, Abe tem a pretensão de unir a famÃlia paterna e materna através da comida. Essa máxima é usada com certa eficiência por Grostein, embora tardiamente. Perde-se muito tempo introduzindo a aptidão de Abe pela comida e suas experiências com ela, e o tempo investido no dilema que deveria ser melhor explorado, só ganha foco bem ao fim da segunda metade da trama. Pelos poucos diálogos cheios de provocação sobre semitismo, costumes, rituais e alimentação de hebreus e muçulmanos, percebemos o quanto a aposta nessa linha de condução seria muito mais interessante de ser vista ao longo do filme.
Porém, ainda que a proposta inicial deixe a desejar quanto ao desenvolvimento, é inegável a feliz ideia em promover a junção de culturas através dos sabores e pratos. O elenco afinado e a quÃmica dos protagonistas reforçam a carga de positividade no assunto abordado. O jovem Noah já prova ser um grande ator e nos leva facilmente ao encantamento pelo seu personagem e os anseios dele. Tecnicamente falando, o filme de Grostein pode até falhar na prática, mas há de deixar uma mensagem reconfortante.
Vale Ver !
Deixe seu Comentário: