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Especial :'O Grande Ditador' - Chaplin usa a comédia como forma de alerta ao fascismo | 1940

Por Rogério Machado 


Charlie Chaplin é um do grandes gênios do nosso tempo.  É impossível fazer referência à sétima arte e não lembrar do ícone da comédia que , contrariando toda lógica fez o mundo rir, chorar e pensar pela maneira particularmente delicada como tocava em diversos assuntos. O legado desse homem se confunde com a história do cinema e até hoje reverbera em novos fãs. 

O que me traz aqui é 'O Grande Ditador', um de seus filmes mais emblemáticos não por ser seu primeiro longa falado - já que Chaplin é um ícone do cinema mudo - mas por abordar a ditadura e o fascismo de forma tão brilhante e incisiva,  enquanto nos faz rir  (às vezes gargalhar), e pensar ao mesmo tempo.  É ainda mais engraçado pensar que o ditador em questão, assistiu ao filme em que era criticado: a informação vem do livro 'A História Bizarra da 2ª Guerra Mundial' (Planeta, 2015), do jornalista Otavio Cohen.


A comédia nos apresenta a Adenoid Hynkel (Chaplin), que assume o governo da Tomainia. Ele acredita em uma nação puramente ariana e passa a discriminar os judeus locais. Esta situação é desconhecida por um barbeiro judeu (também vivido por Chaplin), que está hospitalizado devido à participação em uma batalha na 1ª Guerra Mundial. Ele recebe alta, mesmo sofrendo de amnésia sobre tudo o que havia vivido na guerra. Por ser judeu, passa a ser perseguido e precisa viver no gueto. Lá ele conhece a lavadora Hannah (Paulette Goddard), por quem se apaixona. A vida dos judeus é monitorada pela guarda de Hynkel, que tem planos de dominar o mundo. Seu próximo passo é invadir Osterlich, um país vizinho, até então livre de opressão , e para tanto negocia um acordo com Benzino Napaloni (Jack Oakie), outro grande ditador de Bacteria.


O longa não economiza nos absurdos e o faz no bom lugar do cômico, que dá o recado enquanto é ácido e crítico: a começar pelos momentos em  que o personagem de Hynkel vocifera um alemão bagunçado e incompreensível (como se fosse um dialeto próprio pra não ser compreendido), e em seguida é ovacionado por uma plateia de colegas de partido e fanáticos.  Outro disparate é notado quando o ditador vai apresentar sua biblioteca à Napaloni (o ditador do país vizinho) e diz que preferiu usar  parte do lugar para transformá-lo em uma barbearia e que o espaço com livros ainda era mantido pois ele gostava de apreciar a vista. Esses são só alguns dos absurdos do longa que também tem roteiro e direção de Chaplin, que ainda conta com o famoso humor pastelão , (característica do mestre que o consagrou no cinema mudo), para aliviar o tom mais crítico presente na maioria das sequências. 

Os tempos são outros, mas até nos dias de hoje ainda existem governos totalitários em alguns países, e ainda há também aqueles que flertam com esse tipo de regime, que vão se entranhando aos poucos em função de promessas e soluções fáceis, muito centrado em esquemas que aparentemente unem o país, mas no fundo separam e tiram a liberdade. A sátira de Chaplin ao fascismo, à ditadura e à guerra é com certeza uma das melhores coisas que já vimos nesses 80 anos, desde o lançamento do filme, que ainda nos reserva cenas que são reprisadas e sendo usadas como referência em produções recentes:  como esquecer da sequência em que Hynkel brinca com um globo inflável enquanto diz que vai dominar o mundo? 


O Partido Nazista decretou Chaplin como inimigo da Alemanha, tentou impedir que a população visse o filme e disse que a obra 'transformava o Reich num circo de personagens excêntricos e bobos'. Mas, pelo visto, nem um dos personagens mais repudiados da História resistiu ao bom humor de Chaplin.

Finalizo com o trecho  final (leia na íntegra aqui ou assista abaixo) do texto de Chaplin, eternizado em um monólogo emocionante e contundente na última sequência de 'O Grande Ditador', que se tornou voz para movimentos que evocam a liberdade e a democracia:  

"Vocês, o povo, têm o poder — o poder de criar máquinas, o poder de criar felicidade! Vocês, o povo, têm o poder de fazer desta vida livre e bela, de fazer desta vida uma aventura maravilhosa. Portanto — em nome da democracia —vamos usar desse poder, vamos todos nos unir! Vamos lutar por um mundo novo, um mundo decente, que dê ao homem uma chance de trabalhar, que dê um futuro a juventude e segurança aos idosos.

Foi prometendo essas coisas que cruéis chegaram ao poder. Mas eles mentiram! Não cumpriram sua promessa e nunca cumprirão! Ditadores libertam eles mesmos, mas escravizam as pessoas. Agora vamos lutar para que essa promessa seja cumprida, vamos lutar para libertar o mundo, acabar com as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à intolerância.

Vamos lutar por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso vão levar à felicidade de todos. Soldados, em nome da democracia, vamos todos nos unir!"

Não ao fascismo, não ao ódio. 












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