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Dica Telecine: 'Viveiro' | 2020

NOTA 7.5

Por Sérgio Ghesti @meuhype 

A produção independente teve sua estreia mundial no Festival de Cinema de Cannes em 2019. Logo em seguida ganhou distribuição em alguns países pela Saban Films e no Brasil o longa acaba de chegar ao streming do Telecine. Não é um filme fácil, é quase um quebra cabeça que não subestima a capacidade interpretativa do espectador, muito se faz acontecer quase como um delírio onde temos poucas respostas até fazer algum sentido. Observa-se na obra uma certa crítica social que permeia a suposta ideia de um estilo de vida perfeito e limpo. 


O condomínio Yonder apresenta casas idênticas que confronta a ideia de originalidade e também de individualidade das pessoas. Isso pode representar um senso comum, como também um ambiente artificial. Surge então teorias do que seria a proposta do filme e se estaria ligado a uma intervenção alienígena. São conclusões que só assistindo pra se chegar nelas. A produção não tem pressa e confronta a estrutura tradicional de filmes mais populares em uma repetição de cenários e de atos por um longo período. Talvez esse seja o principal ponto fraco, com o tempo perde-se o fator novidade e fica sensação incômoda como se você estivesse preso dentro do condomínio junto com os personagens. O ritmo lento e a discreta trilha sonora promovem um plano sequência de contemplação, algo já adiantado no início do filme quando presenciamos crianças usando sua imaginação para voar como pássaros. 

Interessante a analogia feita no início do filme quase assoprando o sentido da vida proposto na história. É quase uma dica do diretor que esse recurso será explorado em um filme que apresenta um único cenário, com apenas três personagens e os mesmos elementos em cena em um ambiente fechado. Claustrofóbico. Tudo muito angustiante e ao mesmo tempo instigante; o grande mistério é como tudo isso termina, essa é a maior graça dessa viagem delirante de seu realizador. 

Na trama, enquanto procuram pela casa ideal para que possam morar juntos, um casal, interpretados por Jesse Eisenberg e Imogen Poots, se vê preso em um complicado labirinto feito de moradas idênticas entre si. Quando eles percebem que o local não é nada do que imaginavam, buscam uma saída. O condomínio se chama Yonder, um lugar silencioso e vazio que se estende ao infinito, o seu horizonte é quase como uma pintura com uma aparência artificial. Logo, um bebê é entregue ao casal para que ele seja cuidado e se torne talvez, uma luz do que pode ser a missão deles nesse lugar. 

A interessante obra de mistério e suspense se mostra um drama coeso onde o preço psicológico do casal e a falta de um propósito em suas vidas se deteriora com o tempo, junto com o bem-estar físico e sua saúde mental. A metáfora desse isolamento social abordado no filme é algo que inclusive confronta o que estamos vivendo atualmente com o Covid-19. Será que estamos aproveitando essa crise para se desapegar de padrões pré-estabelecidos? O segundo longa metragem do promissor diretor Lorcan Finnegan, que venceu quatro importantes categorias do Brooklyn Horror Film Festival com seu primeiro filme 'Sem Nome' (2016), cria um labirinto social de propósitos em nossa mente. O mais importante do filme é a  reflexão no que diz respeito à nossa própria vida.

Vale Ver!


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