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Livro que deveria virar filme - Fortaleza Digital | # 3

Por Vinícius Martins @cinemarcante 

O nome do autor estadunidense Dan Brown está vinculado à memória popular pelo seu trabalho mais famoso, 'O Código Da Vinci', que é também um dos livros mais polêmicos do século XXI. Brown tem um pé bem firme nas intrigas de caráter sensacionalista e teorias da conspiração, mas não há como negar que sua escrita seja extremamente envolvente e seus livros sejam um ótimo entretenimento - além de serem peixes muito bem vendidos, convenhamos. Depois de ter três de suas histórias levadas aos cinemas, contando parte da intensa jornada de Robert Langdon, permanece no ar uma indagação inquietante aos leitores de sua bibliografia sobre que razões existiriam para que seu primeiro romance, Fortaleza Digital, não tenha sido contemplado com uma adaptação cinematográfica.

O livro é uma aventura de tirar o fôlego, com cenas tão bem escritas que transformam o ato de interromper a leitura algo quase impossível. O enredo trata a espionagem e os assuntos internos de segurança em uma situação que beira o colapso. Ensei Tankado, um ex-funcionário da agência de segurança nacional norte-americana, a NSA, se volta contra a agência por descordar de sua política de espionagem online no combate a atos terroristas. O supercomputador TRANSLTR é a ferramenta usada para identificar e interceptar mensagens suspeitas e quebrar a criptografia delas para saber o quê exatamente as células terroristas estão tramando contra os Estados Unidos, e Tankado consegue criar um código mutante que trava esse sistema e o torna inútil em sua única finalidade: quebrar códigos. Esse código inquebrável é chamado por seu criador de Fortaleza Digital, e promete estar disponível online gratuitamente para todo o mundo em questão de horas caso a NSA não abra o jogo perante a imprensa, confirmando que tudo que fazemos na internet está sendo monitorado.


Só isso aí já rende um problemão, mas a situação fica ainda mais complicada quando Tankado morre, subitamente, em uma cidade da Espanha. Precavido antecipadamente quanto a possibilidade de sua própria morte, Tankado deixa a missão de liberar o Fortaleza Digital nas mãos de um sujeito chamado North Dakota, que ninguém consegue achar em lugar nenhum e que pode liberar o algoritmo inviolável assim que a notícia da morte de Tankado chegar até ele.

A chave que quebra o Fortaleza Digital, a única esperança da NSA contra esse ato de rebeldia, estava na mão de Tankado o tempo todo e acabou se perdendo após a sua morte: um anel que carregava em sua mão esquerda, que tinha uma deficiência devido aos efeitos da radiação das bombas de 1945, quando ele ainda estava na barriga de sua mãe. Cabe agora a David Becker e Susan Fletcher a missão de resolverem, ele na Espanha para procurar o anel e ela na NSA para descobrir um possível traidor, o enigma que pode mudar o mundo da espionagem para sempre.

POR QUE MERECE VIRAR FILME?

Há de se convir que o livro é deveras datado. A trama escrita por Brown, lançada originalmente em 1998, trata a tecnologia pertinente à própria época e isso faz com que a obra, hoje em dia, pareça ultrapassada. No entanto, não se deixe enganar pelas aparências: o debate que o livro propõe está vivo até hoje, e as noções de liberdade e vigilância estão constantemente sendo revistas e discutidas por diversos grupos diferentes. O assunto é pertinente, e Hollywood gosta de estar em evidência. Seria ótimo ver o suspense criado por Brown ganhar um upgrade, sendo atualizado aos tempos atuais e ganhando os trending topics das redes sociais. Fortaleza Digital quase virou uma série limitada de TV em 2014, mas o projeto não andou muito e acabou caindo no esquecimento coletivo. Talvez tenha aí o dedo da NSA, quem sabe, impedindo uma história dessas de chegar aos cinemas (ou à televisão) justamente para evitar uma revolta massiva contra seus métodos (que certamente vão muito mais além do que os especulados em 1998), confirmando uma rede de vigilância global que se infiltra na vida íntima das pessoas e as observa como um fantasma silencioso. E sim, eu estou sendo sensacionalista; mas que se dane, é uma paranoia legal de especular.

O ritmo frenético de corrida contra o tempo é um acerto e tanto, e há uma poesia cinematográfica na maneira com que Brown descreve seus personagens, ambientes e situações. A aflição gerada pela certeza de alguma morte a cada nova aparição do homem com óculos de armação de metal é angustiante, e sua jornada misteriosa é digna de uma adaptação à la Hitchcock. Os personagens coadjuvantes tem vida própria e enriquecem em muito a história, fazendo o público se importar com aqueles que morrem no caminho em busca da salvação (ou da redenção) da NSA. Basicamente, o livro é um longa-metragem em palavras, e não só merece como também precisa ganhar um filme, ainda mais nos tempos atuais, onde muito se conversa sobre fake news e o mundo está mais conectado à rede do que nunca antes.

MINHA EXPERIÊNCIA COM O LIVRO

Fortaleza Digital foi o primeiro livro de Brown que li - acredito que "que devorei" seja uma expressão mais fiel ao ocorrido -, lá no longínquo ano de 2006. Foi uma experiência absoluta para um adolescente de quatorze anos que não sabia direito nem o que era a vida ainda, e a partir dali me apaixonei pelo estilo de escrita do autor. O melhor romance policial que já li foi Anjos e Demônios, seu segundo livro (que ganhou um filme questionável em 2009), mas Fortaleza Digital continua com um lugarzinho especial no peito, dando um calorzinho nostálgico toda vez que o releio. Já há quase quinze anos eu sonho em algum dia ver essa história no cinema, e já imaginei e reimaginei várias possibilidades de nomes para compor o elenco principal do meu filme imaginário. Lembro que meu pai, preocupado com os papos estranhos e interesses peculiares que eu manifestava naquela época (que decididamente não condiziam com a minha idade), decidiu ler o que eu lia para tentar entender o meu fascínio com a temática e, para a nossa surpresa, ele se tornou um grande fã dos livros de Brown também.

Enfim, Fortaleza Digital mudou minha vida literária. Pode-se dizer que foi um divisor de águas, uma virada de eras, um livro revolucionário da minha juventude que certamente guardarei comigo até o fim dos meus dias. E quem sabe um dia, por meio de algum milagre cinematográfico, eu não o veja nas telonas, não é mesmo? Não custa nada sonhar.

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