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'O Príncipe' é uma viagem obscura de autodescoberta, sexualidade e criminalidade | 2020

NOTA 9.0

Por Rogério Machado

Um corpo estendido no chão, uma garganta dilacerada, e em seguida sangue, muito sangue.. um corte de câmera nos leva até à uma prisão e dando entrada no lugar, um jovem com jeito e corpo de menino que está prestes a se descobrir como pessoa no local mais improvável do mundo. 'O Príncipe', longa sob direção de Sebastian Muñoz, expõe sem dó o interior do cárcere e a homofobia no Chile. O filme foi ganhador do Queer Lion em 2019, o grande prêmio do cinema LGBTQIA+ no prestigiado Festival de Veneza. 


O lugar: San Bernardo, Chile. O ano: 1970. Em uma noite de bebedeira, Jaime (Juan Carlos Maldonado), um narcisista solitário de 20 anos, esfaqueia seu melhor amigo no que parece ser um ato passional. Sentenciado à prisão, ele conhece El Potro (Alfredo Castro), um homem mais velho e respeitado em quem Jaime encontra proteção, revelando uma profunda necessidade por afeto e reconhecimento. Detrás das grades, Jaime se torna O Príncipe, numa relação íntima de "amor negro", como é conhecida na prisão, enquanto encara a violenta batalha por poder dentro do cárcere. 

Muñoz vai na contramão inserindo um núcleo gay em um local  sombrio, sujo, frio e onde geralmente nas tramas vemos homens rudes (ou não) e na maioria das vezes héteros, inserindo a relação gay como algo marginalizado e para atribuir ainda mais violência na narrativa. Mas em 'O Príncipe' acontece a desconstrução desse tipo de abordagem marginal, onde o gay é quem domina e relacionamentos amorosos entre dois homens são apresentados com certa naturalidade que só não chega a ser completa, pois invariavelmente ofensas em tons homofóbicos figuram na trama, principalmente vindas da equipe de carceragem. 

Mas 'O Príncipe' vai além de evocar liberdade e sexualidade, a trama é uma viagem pessoal do protagonista rumo à um destino sem volta: a perda da inocência e a descoberta do seu verdadeiro 'EU'. É curioso notar que a personalidade de Jaime estava prestes a tomar forma justamente na prisão. De figura ingênua, romântica e tímida ele passa a demonstrar autoconfiança, com voz e atitude firmes. É aí que entra em cena o talento de Juan Carlos Maldonado, um jovem ator espanhol que transpõe para a tela essa confusão de sentimentos através desse apanhado de experiências profundas. A dobradinha com o consagrado Alfredo Castro é o ponto alto da trama. 

Muñoz não economiza em cenas fortes de sexo, masturbação e felação, com direito até a ereções em explícito (sem prótese), sem contar toda a exposição da violência. 'O Príncipe' não abre mão da linguagem literal, mas paradoxalmente roda a história com plasticidade, música e poesia. 


Super Vale Ver !


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