'O Diabo de Cada Dia' expressa a antítese da perversidade pautada no cristianismo | 2020 - CRÍTICA 2
NOTA 7.5
Por Rafael Yonamine @cinemacrica
O título torna-se provocativo na medida em que a exposição da religiosidade é apresentada de forma crítica. Tomando como perímetro geográfico amostral cidades rurais entre Ohio e Virginia, o diretor Antonio Campos, baseado num romance de mesmo nome, desenha 3 arcos centrais que transitam entre o final da Segunda Guerra à Guerra do Vietnã. O caráter interiorano inerente ao ambiente escolhido afasta o requinte dispersivo e promove o escrutínio da essência humana de forma transparente. Nesse microambiente desenvolvem-se 3 dramas viciosos: a família de um ex-combate da Segunda Guerra, o legado de um pastor fanático e apegado à interpretação literal da bíblia e a trajetória de um oficial corrupto. Na pluralidade do vício, encontra-se a nossa miséria moral como balizadora, ora pautada pelo cristianismo, ora enraizada na nossa condição corrompida.
A narrativa ganha um caráter convidativo pelo fato de os episódios serem narrados pela voz de alguém experiente e de fala dócil. Contribui para a coesão da obra a construção dos personagens chaves que é feita de forma rica. Mesmo contando com atuações inspiradas e de grandes nomes como Tom Holland, Jason Clarke e Robert Pattinson, a linguagem cinematográfica é manuseada com habilidade. A sequência dos fatos, que invariavelmente se valem de elipses coerentes, explicam com assertividade os principais porquês das aflições. Arvin, o protagonista, absorve a índole responsiva do pai traumatizado que não exitava em revidar agressões e orar de forma afrontosa e com tom de demanda. A antítese materializada regida por uma índole disfuncional, mas sóbria o bastante para se lembrar da cruz quando conveniente. Arvin é o fruto disso, tem-se explicada de um lado a raiva que resiste em se conter, mas cede ao instinto quando estimulada; e do outro o traço da docilidade quase angelical.
Considerando o volume de dramas e os tantos personagens envolvidos, seria imaturo demandar que, por exemplo, todas as origens fossem pontuadas. Roy, o ortodoxo reverendo, é apresentado a partir de suas manifestações extremas, o objetivo não é expor seu desenvolvimento, mas sensibilizar as potencialidades da religião. O que pode ser criticado, entretanto, é a resolução do afunilamento dos diferentes contextos apresentados. O filme é definitivamente prazeroso de ser acompanhado, mas não promove uma crescente diferenciada quando as peças finais esboçam encaixe.
Vale Ver !
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