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O exuberante aliciamento de 'Enola Homes' | 2020

NOTA 9.0

Ora ora, temos uma Enola Holmes aqui

Por Vinícius Martins @cinemarcante 

Tramas de enigmas possuem um charme magnético. As histórias criadas por Sir Arthur Conan Doyle, Agatha Christie e até pelo contemporâneo Dan Brown criam no público uma ansiedade intelectual fascinante, e seus enredos misteriosos já foram adaptados aos cinemas e à televisão, tanto em tramas baseadas em suas obras como também em inspiração a roteiros originais - como é o caso do incrível 'Entre Facas e Segredos' (2019), de Rian Johnson. E agora, acrescentando ainda mais glamour ao hall de produções do gênero, chega ao catálogo da Netflix a produção 'Enola Holmes', dirigida pelo veterano diretor de séries Harry Breadbeer.

O enredo é bem simples, mas isso não o torna desprovido de complexidade. A mãe dos Holmes desaparece no décimo sexto aniversário da filha caçula, Enola, e contrariando os irmãos mais velhos (Mycroft e Sherlock), ela parte em busca da mãe e, por consequência, da própria identidade também. O elenco é muito bem escolhido, e o teor técnico do filme beira o impecável. Além da excelente atuação Millie Bobby Brown (que ouso afirmar ser digna de uma indicação ao Oscar, já que filmes lançados direto em streaming poderão concorrer na próxima edição), devo destacar Sam Claflin, que, com uma postura diferente dos seus personagens anteriores, consegue aqui expressar toda a antipatia arrogante e prepotente de Mycroft de um jeito diferente (porém igualmente bom) ao apresentado por Mark Gatiss na série da BBC. Sherlock é que, talvez, seja o maior incógnito do todo, uma vez que aqui ele é mais charmoso e encantador do que repulsivo e antissocial.

O maior desafio do filme era encontrar um jeito de tirar a irmã desconhecida de Sherlock do anonimato e apresentá-la para o grande público, dando protagonismo e voz à ela sem "menosprezar" a imagem do irmão, mas também sem deixá-la na sombra dele. Sherlock Holmes é um personagem que consegue ser cativante e ao mesmo irritante, e isso desperta o interesse do público. A grande questão no filme de Enola é: como torná-la mais interessante do que a estrela singular que é seu irmão? A resposta, meus queridos, se dá em uma prática eficiente e sedutora, que leva os espectadores a compartilharem segredos com a protagonista e, assim, resolverem o mistério proposto junto com ela.

Há uma deliciosa cumplicidade entre Enola e o público, que se constrói em trocas de olhares constatativos e sorrisos discretos em momentos aparentemente inapropriados - mas perfeitamente oportunos; afinal, a quebra da quarta parede aqui se estabelece como mais do que apenas um recurso narrativo, sendo como um veículo de aliciação. Enquanto 'Deadpool' (2016) e a já finalizada série 'House of Cards' (também da Netflix) faziam uso desse estilo para inserir piadas e fazer comentários acerca do que seus respectivos protagonistas pensavam, viam e sentiam, em 'Enola Holmes' essa comunicação se dá com ares mais refinados, onde as informações são compartilhadas e o público se faz parte integrante e fundamental para o funcionamento da produção.

Com um roteiro que se compromete a ser emocional em meio a um oceano de racionalidade, 'Enola Holmes' se ergue como mais uma jornada de mudanças, evolução e autoconhecimento tão necessária para os tempos em que vivemos quanto era na época em que a história da menina-mulher Enola foi tão caprichosamente ambientada. Nancy Springer, a autora de 'O Caso do Marquês Desaparecido' (livro que aqui é parcialmente adaptado) e de outras aventuras de Enola Holmes, deve estar muito orgulhosa da adaptação de sua obra. É um filme vivo e excelente, que muito provavelmente será reconhecido na próxima temporada de premiações.

Super Vale Ver !

P.S.:

1: Helena Bonham Carter rouba a cena como Eudoria Vernet Holmes

2: Além de Helena, também estão no filme Fiona Shaw e Frances de la Tour, três atrizes que interpretaram, respectivamente, Belatriz Lestrange, tia Petúnia Dusley e Madame Maxime na franquia Harry Potter.



 

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