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'Partida' : Documentário aborda a triste polarização política que tomou conta do país | 2019

 NOTA 9.0 

Por Rogério Machado 

'Partida' é praticamente a estreia de Caco Ciocler na direção. Anteriormente ele havia dividido o posto com Alessandra Paiva em 'Esse Viver Ninguém me Tira' (2014), mas nessa empreitada Ciocler segue a estrada sozinho, e literalmente, já que sua nova experiência documental também se encaixa no formato chamado de 'road movie', os famosos filmes de estrada. O longa também está na leva de produções que foram impedidas de estrear por conta da pandemia, e chegou em junho nas plataformas de streaming. 


O documentário se passa em 2018, ano em que o Brasil elegeu seu representante para os 4 anos seguintes: Jair Bolsonaro. Depois de um processo eleitoral marcado por intensa crise política, a atriz Georgette Fadel resolve (pelo menos é o que ela diz no filme) que entrará na disputa pela presidência em 2022. Para encontrar inspiração, ela, juntamente com uma trupe de atores e agregados, vai atrás do ex-presidente uruguaio Pepe Mujica. Na improvável companhia de um empresário rico (provavelmente um eleitor de Bolsonaro), Léo Steinbruch, Georgette sai em uma viagem de ônibus na fantasia de conseguir encontrar com Mujica e alinhar seus anseios à presidência.

O filme é um documentário, mas segue os moldes de um ambiente ficcional, formato que o faz ser comparado ao documentário de Eduardo Coutinho, 'Jogo de Cena' (2007), que apesar de se inserir no nicho da narrativa documental, também lança mão da ficção em cenas propositalmente combinadas e encenadas a fim de ilustrar os fatos expostos ali, para possivelmente fomentar debates do lado de cá da tela, o que inevitavelmente acontece, afinal estamos falando de política e uma polarização que não terminou, mesmo depois das eleições.  Sendo assim, continua atualíssimo o debate que a produção propõe. 

'Partida', inteligente título por sinal que pode se delinear com diversas referências, desconstrói a ideia do documentário colocando em cheque a função da arte como forma de mudança da sociedade. Será mesmo que a arte e seus agentes, os atores, tem esse poder transformador?  Esse pensamento é transferido ao público em uma sequência em que Georgette (que é atriz, roteirista e cineasta), dialoga com Léo se não seria perda de tempo estar naquele ônibus e não na frente de combate da militância. 

Não vou entregar aqui se Georgette encontra ou não o ex presidente Pepe Mujica; o que consigo deixar registrado é que o documentário transborda verdade, simplicidade e reafirma que a arte ainda é uma arma de resistência. 'Partida' será pra muitos uma experiência emocionante. 


Super Vale Ver !





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