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'Tremores': filme tem abordagem madura e efusiva da polêmica 'cura gay' | 2019

NOTA 9.0

Por Rogério Machado 

A chamada 'cura gay' tem se mostrado um tema recorrente no cinema. Recentemente filmes como 'Boy Erased' e 'O Mau Exemplo de Cameron Post' (2018) trouxeram à tona histórias que envolvem o 'procedimento', com abordagens dramáticas, porém mais próximas da realidade. Já o mais novo exemplo vem da Guatemala , levou o prêmio de Melhor Filme no Festival de San Sebástian no ano passado, e tem uma representação levemente irônica, que paradoxalmente  transita entre o inacreditável e o verossímil. 


Na história conheceremos Pablo (Juan Pablo Olyslager), que tem 40 anos, é casado e pai de duas crianças lindas. Cidadão-modelo, bom profissional e evangélico praticante, sua perfeita e tradicional vida começa a ruir quando ele se apaixona por um homem, Francisco (Maurício Armas). Os sentimentos de Pablo entram em conflito com suas crenças e sua vida se torna um inferno de intolerância e repressão quando a família e a igreja decidem fazer o que for necessário para "curá-lo", forçando-o a suprimir seus impulsos com uma terapia conduzida pela pastora da congregação. 

'Você foi criado da mesma forma que eu, como isso foi acontecer com você?' Disse a irmã. 'Isso é coisa do demônio' , disse a mãe. A igreja trabalha em oração para que o mal saia.  É dessa forma que a condução do diretor Jayro Bustamante segue seu curso, mergulhando fundo, quase que de maneira caricaturada, no interior de uma igreja evangélica que submete seus 'transviados' à um novo método que é baseado em orações, conversas em grupo, lutas corporais (para exercitar a masculinidade) entre outras ações de viés duvidoso que, segundo os pastores locais, era um método que vinha fazendo sucesso e alcançaria toda a América Latina em breve. 

'Tremores', que segue sem data de estreia oficial por aqui e que passou pela Mostra Internacional de São Paulo em 2019 (com direito à um breve comentário do nosso corresponde na ocasião), tem uma abordagem propositalmente sensacionalista do tema e em contrapartida discreta. Tanto que vamos descobrindo em doses pequenas o que está de instalando naquela tradicional família: não há excessiva exploração, nem romântica e nem sexual da relação homoafetiva; o foco é mesmo como a religião e a família lidam com um caso assim. O despreparo e a falta de tato é tão grande, que fazer a relação dos tremores de terra, -muito comuns na região-, com a recepção de uma notícia como a que Pablo deu à sua família, se torna uma escolha criativa e bem empregada. 

O ruir no seio daquela família, iria muito além das quatro paredes. A lição é cristalina: não dá pra fugir de algo assim, os tremores uma hora ou outra retornarão.


Super Vale Ver !


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