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'Contornando a Morte' explora o dilema religião x ciência e a dor da não-aceitação | 2020

NOTA 8.0

Por Karina Massud @cinemassud 

Um dos maiores desafios da ciência é a morte, como evitá-la, ou ao menos garantir uma vida além dos cem anos ao homem. Será que um dia isso será possível? Aos trancos e barrancos alguns cientistas vêm trazendo alternativas, mesmo que loucas, às pessoas que querem viver eternamente, e um desses caminhos inusitados é a criogenia, que é a técnica para manter cadáveres congelados para um dia ressuscitá-los.

Aceitar as mazelas que a vida nos apresenta é o primeiro passo para amenizar o sofrimento e se libertar, ter uma vida mais leve e plena. A morte é a única certeza que temos, é triste e sangra o coração, principalmente se inesperada e precoce como o caso da menininha tailandesa Einz , que morreu com 2 anos de um câncer raro  no cérebro. Seus pais não aceitaram sua morte em 2015 e decidiram congelá-la na ONG americana Alcor, que lá mantem mais de 130 pacientes  em tanques de nitrogênio,  até que um dia se descubra a cura para a doença e Einz volte a vida. Essa história inusitada e que teve repercussão mundial é contada em “Contornando a Morte”, documentário que coloca uma lupa sobre o processo de criogenia e sobre o luto da família tailandesa.

O processo chocante do congelamento é questionado ao longo da trama, assim como a ética em executá-lo: será que o ser humano tem o direito de brincar de Deus? Não há garantias de que a pessoa será um dia ressuscitada, muito menos que ela voltará igual. A perspectiva científica e espiritual são apresentadas diante de nós. As crenças pós-morte budistas também são um ponto forte tocado no documentário: congelando o corpo, sua alma ficaria presa nele? Como ficariam a personalidade e memórias da pessoa congelada?

A volta da menininha vira uma obsessão bem dolorosa pela família, que passa dias e noites focada nisso ao invés de tocar a vida com a dor da saudade. Pai e filho tentam pensar como cientistas pragmáticos que são, mas a não-aceitação acaba falando mais alto que o bom senso. Até uma excursão com a família toda ao tanque de nitrogênio é feita, como se fosse uma visita ao túmulo, levando flores e lembrancinhas. O luto foi trocado pela dor da incerteza do renascimento.

Eleito como o Melhor Documentário Internacional no Festival de Documentários Internacionais Hot Docs de 2019, “Contornando a Morte”, disponível na Netflix, é comovente e difícil de assistir, talvez até soe macabro para alguns. O longa foi deixado como testamento para Einz caso ela volte um dia e veja que sua família a amava muito e fez de tudo pra tê-la de volta.


Vale Ver !




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