A ópera de injustiças que é 'Os 7 de Chicago' | 2020 - Crítica 2
NOTA 9.5
Um reflexo de seu tempo
Por Vinícius Martins @cinemarcante
Filmes sobre julgamentos são obras de manipulação, tanto em sua trama quanto na percepção da mesma pelo público. 'Os 7 de Chicago', no entanto, é um filme mais inclinado a ser uma obra de bastidores - tal qual a 'The Post: A Guerra Secreta', lançado no Brasil em 2018, que também aborda polêmicas e mentiras em torno da política que levou à guerra do Vietnã. A manipulação aqui é explícita, e por conta disso acaba dando lugar ao vislumbre dos horrores de um sistema corrupto e destemperado. A produção é uma releitura dos eventos que movimentaram Chicago no final dos anos 60 e, de maneira muito bem orquestrada pelo diretor e roteirista Aaron Sorkin, consegue compor com um equilíbrio eficiente a compreensão entre a enxurrada de motivações orgulhosas e meios justificáveis por seus fins.
É interessante notar a abordagem que Sorkin dá às causas de cada um e aos preceitos dos quais eles se utilizam para alcançar o final mútuo. São métodos diferentes que caminham, paralelamente, para um mesmo propósito em comum: por fim à guerra do Vietnã. Todos os vários manifestos e as diferentes visões apresentadas aqui se estabelecem em meio a uma horda caótica de boas intenções, até que chega a fúria do julgamento. E é nesse momento que a arte do cinema se faz presente em seu cerne, no conjurar da empatia do público ao colocá-lo perante um cenário de injustiça explícita. Desde os primórdios de sua existência, o cinema é um exercício de empatia. Seja em um trem que vem em direção à tela ou em um cachorro que espera o retorno de seu dono, a sétima arte se propõe a elevar o cotidiano à prática de tornar o simples em algo extraordinário. Acontece que, aqui, não há nada simples ou cotidiano, não. A complexidade do caso é grande e exige muita atenção enquanto se desenvolve, mas ainda assim há espaço para a promoção de uma revolta empática por ver alguém ser injustiçado ao lutar pelo bem coletivo, e isso se agrava pelo fato de que a injustiça está vindo do órgão que deveria combatê-la.
O cenário histórico de 'Os 7 de Chicago' é tão absurdo que fica até difícil acreditar que aquela algazarra aconteceu de fato. Embora alguns achem os diálogos do filme um pouco artificiais e considerem algumas atuações um pouco deslocadas, há de se convir que o resultado é prático e faz valer o conjunto da obra. O filme toma algumas liberdades, e seu encerramento é a mais pura poesia hollywoodiana. Independente de ter sido tudo verdade ou não, a empatia aqui foi pregada com sucesso - e é isso que o mundo mais precisa hoje em dia, empatia. Essa é a história de homens comuns que, em um julgamento político (leia partidário), preferiram manter suas ideologias acima de si mesmos. Assim sendo, é justo afirmar que 'Os 7 de Chicago' é, em essência, um manifesto que se ergue em reflexo ao seu tempo - seja ele o período narrado ou a época em que é lançado. Não se cale diante da injustiça.
Super Vale Ver !
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