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'Os Novos Mutantes', o novo injustiçado do pedaço | 2020

NOTA 7.0

O charme rústico de um Frankestein

Por Vinícius Martins @cinemarcante 

Existem filmes complicados. Existem filmes azarados. E existe 'Os Novos Mutantes', que chegou aos cinemas brasileiros em meio a reabertura gradual das salas pelo país. Não é novidade para quem acompanha o universo da sétima arte o quão complicada foi a jornada desse filme até a sua estreia. Foram diversas regravações e vários adiamentos em relação a sua data de lançamento original (previsto para o começo de 2018), e quando parecia que o filme finalmente chegaria às telonas... veio a pandemia. Essa sequência de infortúnios, adicionada às notícias de uma pós produção conturbada, resultou em incontáveis boatos e comentários maldosos que condenavam o filme antes mesmo de sua primeira roupagem ser concluída. Levantou-se um movimento de ódio contra ele nas redes, alimentado por pessoas que nem sequer o tinham assistido. E mesmo nas últimas semanas, quando o filme estreou internacionalmente, as pessoas ainda parecem levar mais em conta a trajetória complicada do filme do que o seu resultado final.


Tudo bem o filme não ser nenhum marco cinematográfico, até porque sua proposta nunca foi essa. Uma postura mais "descolada" já era algo esperado, levando-se em conta o seu público alvo. No entanto, devo dizer que 'Os Novos Mutantes' não é esse demônio todo que pintam. O filme tem algumas escolhas equivocadas, mas continua hodierno em seu diálogo com os assuntos pertinentes à juventude, como ao descobrir do seu lugar no mundo (temática sempre abordada nos filmes dos X-Men) e o respeito que se manifesta no ato de tolerar os seus diferentes. No fim das contas o seu saldo de acertos se sobressai, com um destaque agradável às atuações dos jovens talentos que o filme apresenta, tão comprometidos com a causa e tão entregues ao projeto que tornam a experiência gratificante pelo seu nítido engajamento com o projeto.

O filme passa longe de ser o desastre narrativo que foi 'Esquadrão Suicida' em 2016, com suas inconsistências estruturais e indefinições sobre para qual estilo ele iria seguir. O "novo" filme do diretor Josh Boone (de 'A Culpa é das Estrelas') traz elementos de horror bem interessantes, que se abstém da proposta mais popular - de dar sustos e promover jumpscares - para colocar expressões de pânico e pavor nos rostos do elenco. O filme pode ser considerado bem "feijão com arroz" se comparado aos demais filmes do gênero, mas acredito que seja mais adequado considerá-lo como uma escada que é subida degrau por degrau, sem pular etapas, evoluindo e crescendo gradativamente, cumprindo alguns clichês e entregando uma porta aberta lá em cima, com um horizonte aguardando para ser explorado (e que, infelizmente, muito provavelmente nunca será). 'Os Novos Mutantes' se arrisca, mas ao mesmo tempo mantém a cartilha. 

Há conexões com o universo estabelecido dos X-Men, mas isso não torna a obra dependente de antecessores. Existem referências, claro, como a corporação Essex (presente na cena pós créditos de 'X-Men: Apocalipse', que foi mais desenvolvida nos quadrinhos). Todavia, a obra em questão é funcional e cumpre com alguns louvores seu caráter episódico, entregando alguns momentos que, dentro de sua espera, são épicos e perfeitamente coerentes com a jornada dos seus protagonistas - e faz isso sem forçar a barra ou apelar à ignorância para descer na guela do público um argumento pífio para que se justifique o embate (cof cof Batman vs Superman cof cof). O momento apoteótico está presente - não com a mesma megalomania que 'Vingadores: Ultimato' -, e há de se convir, avaliando com justiça, que o final é no mínimo satisfatório. É injusto cobrar arte de quem nunca se propôs a entregar arte. O que importa é que o filme funciona e, como entretenimento casual, isso já basta.


Vale Ver! 






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