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'Verlust' é uma viagem visual e dramática sobre escolhas e perdas | 2020

NOTA 8.5

Por Rogério Machado 

A contar pelas parcerias anteriores e pelo seu recente trabalho solo na série 'Boca a Boca' , da Netflix, é seguro afirmar que o cineasta Esmir Filho é um ponto fora da curva no cenário cinematográfico brasileiro. A linguagem de vanguarda é patente desde o visual até o modo de construção da narrativa. 'Verlust', o novo trabalho desse profissional visionário que é destaque na Mostra SP e estreia nos cinemas em novembro, é um passo à frente que,  além de todas as características de sua marca registrada ainda demonstra maturidade. 


A trama acompanha a grande empresária Frederica (Andrea Beltrão), que, isolada numa bela casa de praia, prepara uma festa de réveillon que é aguardada por todos. Essa mulher aparentemente tão segura de si, está passando por dificuldades no seu casamento com Constantin (Alfredo Castro), problemas esses que afetam diretamente  sua filha adolescente, Tuani (Fernanda Pavanelli). No meio disse tudo, ela também precisa administrar a vida e carreira da complicada ícone pop Lenny (Marina Lima), que está em contato com João (Ismael Caneppele), um jornalista de ar misterioso  que está escrevendo uma biografia sobre ela. Quando uma estranha criatura do fundo do mar surge em sua festa, uma crise se instaura em seu círculo de relacionamentos, precisando, Frederica, enfrentar um dos seus maiores medos: a perda.

Verlust : desejo + perda irreparável. Este é o significado apresentado na projeção e que vai se destrinchando através dessas vidas tão próximas e ao mesmo tempo tão estranhas entre si. A comunicação é truncada , cada personagem tem suas próprias motivações, e que na maioria das vezes não inclui o outro, exceto pela relação entre Tuani e se pai, mas que não parece ter uma retribuição à altura. 

A criatura misteriosa no mar, que dá o tom fantástico ao drama, vem para ilustrar a vida estagnada e de inércia em que aquelas pessoas se encontravam. Presas às referências de um passado que não fazia mais sentido, pelo medo de enxergar o futuro. O agente dessa quebra de ritmo e mudança de sentido das coisas  é João, que cria uma movimentação calorosa, sexual e inquietante dentro daquela casa.  Tudo construído sem ser óbvio ou explicativo demais, o cinema visual de Esmir Filho propõe, e somos nós, o público, quem criamos nossas próprias interpretações sobre o que acabamos de ver.

Vale dizer que Marina Lima surpreende em sua aparição nas telas, e não é à toa que a compositora se uniu ao projeto para interpretar Lenny. Com uma extensa carreira e ícone de uma geração, Marina superou traumas e foi capaz de se reinventar. Ela personifica Lenny e seu constante movimento de busca. O disco “Marina Lima” é um objeto importante para as personagens principais, de forma que vida e obra se misturam. Esse com certeza é o ponto alto no projeto, além claro da sempre luminosa presença de Andréa Beltrão, que compõe uma Frederica forte mas que também demonstra instabilidade na condução se sua vida pessoal.

'Verlust' não é um filme fácil e nem pra todo tipo de público, mas é com certeza um dos grandes do cinema nacional em um ano tão difícil para a arte. Aliás, o filme exala arte do começo ao fim. 

Vale Ver !






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