'The Boys in The Band': drama gay produzido pela Netflix é o ápice da representatividade | 2020
NOTA 9.0
Por Rogério Machado
'The Boys In The Band' chegou aos palcos da Broadway em 1968. A peça trazia uma temática que ainda é indigesta para muitos, mas enfrentou a hipocrisia e abriu caminhos para as produções LGBT que viriam anos mais tarde. Pela Netflix , com os dedos do mago Ryan Murphy, a adaptação da peça homônima de Mart Crowley e que vem com a direção de Joe Mantello, capta com muita elegância não só a atmosfera dos anos 60, mas também o clima da obra ganhadora do Tony Awards.
A história, que se passa em uma noite, acontece em um apartamento no Upper East Side, onde Michael (Jim Parsons), um homossexual cínico e de nariz em pé, está dando uma festa de aniversário para seu outro amigo gay, Harold (Zachary Quinto). Enquanto os primeiros convidados já chegaram e se divertem, Harold ainda não apareceu. Para surpresa de Michael, Alan (Brian Hutchison), um antigo colega de quarto de faculdade, casado, e que ele suspeita ser homossexual não-assumido, chega à festa mesmo não tendo sido convidado. Quando Harold finalmente dá as caras, seu humor sarcástico cria grandes problemas principalmente com o dono do apartamento. Dali pra frente, os dois e todos os presentes, entre eles Donald (Matt Bomer), Emory (Robin de Jesús) e Hank (Tuc Watkins) precisarão enfrentar um jogo onde verdades serão desenterradas e mágoas serão trazidas à tona.
A excepcional desenvoltura do longa não se dá somente pelo texto afiado, que passeia entre o humor e o drama numa linha bem tênue que providencialmente se confundem um no outro, mas também pelo desempenho do elenco, que majoritariamente é composto por atores gays. Esse aspecto não só contribui para a organicidade no desenvolvimento da narrativa, mas também por tudo que o filme vem a representar para a comunidade LGBT: são profissionais abertamente gays que se entendem e que entendem o meio em que vivem, e o representam com fidelidade, não vivendo suas próprias personalidades mas fazendo uma leitura pessoal de pessoas próximas, com suas particularidades e manias.
O filme é um raio x do comportamento da comunidade com toda sua pluralidade: defeitos, qualidades, maldades, autoestima, traição, amor, liberdade, ser afeminado, estar no armário, sufocar uma paixão do passado, garotos de programa, casar, ter uma relação aberta. Tudo isso é colocado diante do público sob um olhar crítico da própria comunidade com ela mesma, inclusive sobre ser um gay afeminado ou seguir a cartilha da heteronormatividade, ou ainda sobre como alguns se voltam para a cultura e outros se voltam para o culto ao corpo, e são discriminados por isso.
O projeto tem alto índice biográfico; e apesar de cortante e ácido em muitos momentos, guarda um tom de ingenuidade e doçura. Essa dualidade faz bem para a produção e foi filmada sob o olhar atento de Crowley, que infelizmente faleceu em março e não pôde ver a obra produzida para as telas ser finalizada. 'The Boys in The Band', mesmo depois de tantos anos continua atual e engajado, não abraça o grande público mas também não se importa com isso. O projeto é assumidamente direcionado ao público LGBT e ostenta a representatividade com orgulho.... se é que vocês me entendem.
Super Vale Ver !
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