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Com drama familiar pesado, 'Destruição Final: O Último Refúgio' comove e apavora | 2020

NOTA 9.0

Filme com o fim do mundo como plano de fundo é uma grata surpresa no conturbado 2020

Por Vinícius Martins @cinemarcante 

Há muito que pode ser dito sobre 'Destruição Final: O Último Refúgio', em diversas maneiras de abordar a multiplicidade de ângulos e histórias que cruzam com as jornadas dos protagonistas; no entanto, é mais honesto começar minhas observações dizendo que este não é um filme que vai comover (ou ao menos agradar) a todos. Ele é eficiente em apresentar as deficiências sociais em um cenário apocalíptico e provavelmente cairá mesmo é nos gostos do seu público alvo: as famílias. Quem espera um filme meramente sádico, com a destruição de monumentos mundiais como um entretenimento fácil, tende a se decepcionar facilmente. A chegada do asteroide à Terra é só um plano de fundo para o foco central da trama, que é o drama de uma família na luta pela sobrevivência. Tem coisas desesperadoras nesse filme que só quem já experimentou a maternidade ou paternidade sabe como são. Pesadelos de qualquer chefe de família, que teme não conseguir proteger aqueles a quem ama. E por mais que se possa imaginar a dor dos protagonistas, só quem já produziu alguma prole é capaz de exercer a empatia pelos personagens com o pânico em sua totalidade.

'Destruição Final' explana uma selvageria cruel pela sobrevivência sobreposta ao senso comunitário que permeia as sociedades civilizadas, e apresenta cenários onde as escolhas são, literalmente, matar ou morrer. Boas pessoas se corrompem, más pessoas se revelam e indivíduos ordinários seguem como uma manada de zumbis esfomeados, querendo sugar toda a vida que encontram. Uma cena em particular, que se desenvolve após um incidente em uma farmácia, acaba por expôr a reviravolta de como uma boa ação pode se transformar em uma cilada de um minuto para o outro, apenas pelo mínimo vislumbre de uma chance de sobrevivência. A grande questão deixada para o público aqui é: no lugar daquelas pessoas perversas a quem julgamos tão mal, nós faríamos diferente?

A premissa do longa é simples: um asteroide que passaria próximo ao nosso planeta muda sua trajetória após se aproximar do sol (o que o fez expelir gases e alterar a direção) e entra em rota de colisão com a Terra. A princípio apenas alguns fragmentos não letais entrariam na atmosfera, mas os governos ocultaram a terrível verdade da grande população (um evento de extinção em massa com a colisão de um fragmento gigantesco) e preparou um refúgio para abrigar alguns indivíduos relevantes (por meio de sorteio). A família de John e Alisson Garrity, interpretados por Gerard Butler e Morena Baccarin, é contemplada no sorteio e, em meio ao caos instalado nas proximidades da base de onde decolariam, a família se divide. Nathan, o filho doente do casal, segue para um lado com Alisson enquanto John tenta encontrá-los por outro caminho; e é aí que a jornada de sobrevivência em meio ao apocalipse se transforma também em uma corrida pelo reencontro. Butler interpreta um homem cujo caráter questionável já se apresenta na primeira cena - mas não vou me aprofundar nisso pois seu caráter é posto à prova a todo instante, e constantemente somos apresentados a personagens que se corrompem além dele, dando à obra um espectro assustador de humanismo e imperfeições como um memorando do quão mesquinhas as pessoas podem ser quando colocadas em uma situação de risco.

Sobre a disposição do elenco e os quesitos técnicos, a interpretação de Baccarin é fantástica e Butler parece reprisar os arquétipos de seu papel na franquia Invasão. Os efeitos visuais não são excelentes, mas os momentos onde falta um acabamento mais caprichado não comprometem a experiência como um todo. Trilha, fotografia e direção de arte não inovam em nada, mas seguem com louvores a cartilha dos filmes do gênero - mesmo que muito embora esse filme se distancie das faces megalomaníacas (vide 'Armagedon'). Na verdade, é mais cabível comparar esse filme com o excelente 'Procura-se um amigo Para o Fim do Mundo', de 2012, que é uma tragicomédia intimista intensa cuja premissa em muito se assemelha a do filme em questão. Enfim, assumo minhas lágrimas e meu envolvimento emocional durante a sessão, e desejo a vocês a mesma entrega ao filme que eu tive na sessão de pré-estreia. 'Destruição Final' é muito mais do que só um cinema-catástrofe; ele é um estudo comportamental razoável e é, principalmente, um filme de amor familiar em meio a erros e imperfeições.

PS: é curioso o contraste entre o título original do filme ('Greenland', que é uma referência à Groelândia mas significa "Terra Verde" em tradução livre) e a paleta de cores da maioria das cenas, onde o laranja predomina e o verde parece nem existir.


Super Vale Ver !




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