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Especial: Review 44ª Mostra Internacional de Cinema de SP

No novo mundo em que estamos vivendo desde março desse ano, é claro que os cinemas se tornariam um lugar nada seguro para se estar. Em virtude do Novo Corona Vírus, até festivais e premiações passaram a existir num ambiente virtual.  A 44ª Mostra Internacional de Cinema também se adaptou e levou o evento por todo país através da plataforma Mostra Play, onde cada título dispunha de um limite de até 2000 visualizações e  podia ser alugado por um preço bem camarada, ficando disponível entre 24 e 48 horas. A Mostra, que também teve sessões em dois cinemas drive-in em São Paulo, exibiu cerca de 150 títulos dos mais diversos países: Brasil, Alemanha, Argentina, Bolívia, Canadá, China, EUA, Finlândia, França, Grécia, Hungria, Irã, Japão, Líbano, México, Noruega, Palestina, Portugal, Suiça, Síria e Turquia exibiriam filmes das mais variadas temáticas. 

Como de costume, taí  um compilado de sugestões e avaliações do nosso collab paulista Rafael Yonamine, com colaboração de Karina Massud e Rogério Machado. Fique ligado pois muitos desses filmes estarão em breve no circuito de exibição, e esse review nada mais é do que um termômetro, ou sobre o que esperar de cada um deles. Que no próximo ano tenhamos cinemas e festivais lotados. A cultura agradece! 

Beans: baseado em tristes fatos reais, o filme centra-se no embate étnico entre as populações indígena e  branca na província canadense de Quebec em 1990. A intolerância retratada não se difere muito dos tantos outros exemplos que nossa espécie consegue promover. O filme tem ligeiro poder diferenciação pela sensibilidade com que a barbárie é exposta. A protagonista, uma pequena garota, é oprimida pela discriminação gratuita que também a alimenta do mesmo sentimento segregacionista.

Miss Marx: cinebiografia da filha mais nova de Karl Marx. O peso histórico do sobrenome parece ter gerado mais permissividade na negligência de explicar consequências em detrimento das causas. Eleanor Marx parece ser dotada de uma aura revolucionária de gênese espontânea. Não faltam a ela virtudes, mesmo que os fatos reais não se distanciem dessa figura idealizada, mantenho minhas convicções darwinianas de que características adquiridas não são transferidas aos descendentes.

Coronation: um dos documentários mais comentados da Mostra. Dirigido pelo artista e ativista chinês Weiwei Ai, percorre-se  corredores de hospitais, domicílios de civis e o cotidiano da sociedade de Wuhan, epicentro da pandemia do Covid-19. Há pontos altos como o olhar íntimo à fragilidade de pacientes terminais bem como à sistematização do governo em diversos processos, até mesmo na disponibilização das cinzas de vítimas. Passado o impacto desses flagras, o corpo do registro não evolui. A estaticidade se sobrepõe às possíveis lacunas informativas.

Pai: drama Sérvio que, apesar de esteticamente modesto, é de inegável competência em transmitir o poder do elo familiar entre pais e filhos. Um pai de família vive de empregos sazonais numa realidade permeada de privações, motivo pelo qual a guarda dos dois filhos lhe é retirada. Inicia-se assim uma jornada pela dignidade.

O Século 20: apesar de ter gostado, devo reforçar que esse é o tipo de proposta experimental. Adota-se um tom fabular para recontar de forma crítica e irônica a política canadense num universo distópico. A ambientação é distorcida: ao invés de formas convencionais, o cenário segue construções de painéis e estruturas produzidas. Outros recursos como vozes com eco e iluminação fantasiosa contribuem para a materialização desse quase sonho político. Muito interessante para mentes abertas.

Shirley: a cinebiografia da escritora de terror Shirley Jackson recorre a uma estreita faixa temporal para expor seus traços atípicos. O modo com que a escritora interage em sociedade vem à tona por meio do convívio com um casal que passa a morar na sua casa por um período. O investimento em extravasar o gênero literário do terror para a forma com que a narrativa evolui não tem um retorno satisfatório. A coexistência do suspense imposto e a necessidade da dramatização, por vezes resulta de arestas mal acabadas.

Suor: os bastidores da vida de uma celebridade digital do mundo fitness. O filme não vai oferecer muito além de problemas presumíveis que pessoas públicas têm. Filme bastante vazio, difícil apegar-se em algo. 


Curral: “Curral” não mostra uma solução, apenas denuncia o problema gravíssimo da manipulação de eleitores e troca de votos por 50 reais, por favores, empregos e consultas médicas. O povo brasileiro não está valendo nada, é um povo com uma autoestima massacrada que no desespero se rende à corrupção rasteira, se vendendo por coisas que são seus direitos básicos. Nesses lugares onde falta tudo e principalmente perspectiva de um futuro melhor, ter questionamentos éticos não é prioridade.


Verlust: A contar pelas parcerias anteriores e pelo seu recente trabalho solo na série 'Boca a Boca' , da Netflix, é seguro afirmar que o cineasta Esmir Filho é um ponto fora da curva no cenário cinematográfico brasileiro. A linguagem de vanguarda é patente desde o visual até o modo de construção da narrativa. 'Verlust', o novo trabalho desse profissional visionário que é destaque na Mostra SP e estreia nos cinemas em novembro, é um passo à frente que,  além de todas as características de sua marca registrada ainda demonstra maturidade. 

Al- Shafaq - Quando o Céu se Divide: Mesmo abraçando um tema de alto potencial dramático e de discurso forte, o filme não se vale de cenas pesadas para reafirmar sua odisseia de dor e sofrimento. O direção de Isik é discreta e não expõe ao público sequências de violência, sabemos que a violência existiu pela sugestão na cena e pelos desfechos na trama, e isso já se torna um outro grande ponto à favor da produção. 

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