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'Não Há Mal Algum' lança luz sobre os horrores da pena de morte no Irã | 2020

NOTA 9.5

Por Rogério Machado 

Heshmat é um pai devoto ao lar. A atenção à esposa, o carinho para com a filha, o zelo para com a sogra que mora junto com o casal... enfim, uma família comum como muitas. O cotidiano é mostrado com detalhes, desde o trato com a família até a preparação para o trabalho: Heshmat toma banho, se arruma, dirige calmamente até o lugar onde ganha seu pão de cada dia, entra por um longo corredor e em seguida  numa sala com inúmeros controles e luzes que se acendem e apagam. Nada do que veremos à partir dali, nos foi anunciado previamente. O choque é inevitável, mas necessário portanto,  para aclimatar o expectador sobre o que será visto nas quatro histórias que compõem a trama sob a direção do iraniano Mohammad Rasoulof.

No Irã, quatro homens são colocados diante de uma escolha impensável, mas, ao mesmo tempo, simples. Não importa a decisão que eles tomem, ela irá transformar de maneira corrosiva, direta ou indiretamente, eles mesmos, seus relacionamentos e a vida de cada um. As quatro histórias são variações de temas cruciais ao redor de questões morais e da pena de morte, e que lançam a dúvida sobre até que ponto a liberdade individual pode ser expressa sob um regime tirânico e suas ameaças aparentemente incontornáveis. 

Vencedor do Urso de Ouro e do Prêmio do Júri Ecumênico no Festival de Berlim e premiado também na Mostra SP esse ano, onde teve todos os ingressos esgotados,  o excepcional 'Não Há Mal Algum' é mais uma produção entre tantas naquele país que se tornam um clamor contra os dilemas sociais. A pena de morte é o foco da vez, mas o longa vai além e discute não só o coletivo como também o individual, debate índole e caráter. 

Todo país que aplica a pena de morte precisa de indivíduos para serem os executores, e é nesse ponto onde a narrativa se desenvolve. Alguns são atormentados por terem que cometer tal ato, outros aceitam e cumprem o dever segundo a lei do país, porém, em ambos os casos consequências diretas ou indiretas são observadas na trajetória de cada um desses personagens em histórias e situações muito diferentes, mas que têm em comum a própria consciência e a maneira como cada um deles lida com essa violência. 'Não Há Mal Algum' é com toda certeza um dos melhores filmes do ano: é potente, questionador e é cinema de alto nível.  O Irã continua mantendo a boa tradição de produções acima da média. 


Super Vale Ver !



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