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O limite entre a fé e o extremismo religioso em 'Al-Shafaq -Quando o Céu se Divide | 2020

NOTA 8.0

Por Rogério Machado 

'Al Shafaq - Quando o Céu se Divide' é apenas o segundo filme da cineasta turca radicada na suíça Esen Isik, tanto que o longa aparece na Mostra Sp na categoria de competição Novos Diretores. Mesmo ainda sem trabalhos de projeção, Isik demonstra maturidade em subverter a ideia que fazemos de histórias que abordam o fanatismo religioso no oriente médio. 


Na trama conheceremos Abdullah (
Kida Khodr Ramadan), um imigrante turco que vive na Suíça trabalhando como motorista de táxi. Mesmo longe de seu país, ele exige que seus três filhos sigam rigorosamente a religião muçulmana. Ele tem problemas com seu filho mais novo, Burak (Ismail Can Metin), um jovem que tem amigos ocidentais e gosta de se divertir com eles. Para lidar com seu filho que não segue os preceitos do Alcorão, o pai pede ajuda ao novo patrão do irmão mais velho, sem desconfiar que está encaminhando-o para religiosos extremistas, um grupo cujas ações ele abomina. 

'Al Shafaq' acerta principalmente ao apostar na não linearidade do roteiro. Existe uma primeira cena de impacto e é essa cena que vai nortear toda a história. A trama principal dá conta do relacionamento de pai e filho e a luta para se entenderem:  seguir as tradições da religião ou ser livre? Paralelo à isso , uma subtrama enfoca a luta pela sobrevivência de dois irmãos órfãos, que perderam os pais para a guerra santa e temiam por suas vidas. O destino haveria de unir Abdullah com um desses meninos, vítima de grupos extremistas em meio à guerra que o filho de Abdullah havia aderido. As tramas se complementam dentro dessa temática que se torna um clamor contra o extremismo religioso. 

Mesmo abraçando um tema de alto potencial dramático e de discurso forte, o filme não se vale de cenas pesadas para reafirmar sua odisseia de dor e sofrimento. O direção de Isik é discreta e não expõe ao público sequências de violência, sabemos que a violência existiu pela sugestão na cena e pelos desfechos na trama, e isso já se torna um outro grande ponto à favor da produção. 

Questionamentos sobre fé e cultura serão inevitáveis. Uma se perpetua mesmo depois dos créditos subirem: - 'Porque Alá permite o mal e o sofrimento?'  Pergunta Burak pra seu pai em determinada altura. Na certa essa não é uma pergunta fácil de ser respondida, mas é  também certo que tudo está ligado às escolhas que fazemos... temos um presente dos céus chamado livre arbítrio, e infelizmente nem sempre fazemos bom uso dele. 


Vale Ver ! 



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