'A Chorona' usa fantasia e suspense psicológico numa trama com contexto histórico | 2020
NOTA 8.0
Por Rogério Machado
A Chorona é uma espécie de assombração mexicana que, reza a lenda, depois de ser abandonada pelo marido, afogou os filhos e depois tirou a própria vida. Desde então, arrependida, sua alma vaga por rios, povoados e cidades durante a noite, sempre chorando e em busca das crianças. A fantasma ficou popularmente conhecida como La Llorona, e sua história percorreu toda a América. Ano passado o conto ganhou uma versão hollywoodiana de terror, cujo objetivo era proporcionar alguns sustos e simplesmente reproduzir o que o conto diz. Meses depois foi a vez do promissor diretor guatemalteco Jayro Bustamente trazer uma adaptação mais densa,- e dentro de um contexto histórico -, envolvendo a entidade.
Com as palavras "Se você chorar, eu te mato" ecoando em seus ouvidos, Alma (María Mercedes Coroy) e os filhos são assassinados em um conflito armado na Guatemala. Trinta anos depois, um processo criminal é movido contra Enrique Monteverde (Julio Díaz), um general aposentado que supervisionou o genocídio. Mas ele é absolvido no julgamento e o espírito de La Llorona é libertado para vagar pelo mundo como uma alma penada entre os vivos. À noite, Enrique começa a ouvir o lamento de La Llorona. A esposa e a filha do militar, então, acreditam que ele está começando a sofrer de demência. Mal poderiam suspeitar que sua nova governanta, Alma, está lá para cumprir a vingança que o julgamento não foi capaz de fazer.
Vencedor do prêmio de direção "Giornate degli Autori" no Festival de Veneza 2019, o roteiro de 'La Llorona' lança mão de um episódio ocorrido na Guatemala para contar a história real de fraín Ríos Montt, ditador militar que governou o país entre 1982 e 1983, após um golpe de Estado. Montt foi julgado e considerado culpado por crimes contra a humanidade em 2013, mas a sentença acabou anulada poucos dias depois. Morreu em 2018, impune, aos 91 anos de idade.
Apesar do ritmo compassado, o suspense tem bons momentos e proporciona uma experiência que navega entre as linhas da fantasia e do suspense psicológico, e por também ter pinceladas altamente políticas, deixam a trama atraente e esteticamente muito interessante, já que a pegada autoral em tão pouco tempo tem se tornado a marca registrada de Bustamante.
Vale Ver !
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