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A perda da audição e o encontro de uma vida nova em 'O Som do Silêncio' | 2020

NOTA 8.5

Por Eduardo Machado @históriadecinema

Existem filmes que não terminam nos créditos finais. São filmes que nos acompanham por algum tempo depois, não em razão de plot twists mirabolantes, mas porque nos colocam em situações que ainda não havíamos pensado em passar. “O Som do Silêncio”, certamente é um desses filmes. Darius Marder, estreando como diretor, sem matar qualquer personagem, constrói um singular filme sobre perda.

Pois para um baterista como Ruben (Riz Ahmed) perder a audição é como se despedir de um ente querido, sendo obrigado a passar pelos estágios do luto (negação, raiva, aceitação), como se tivesse perdido um filho. Contando com uma performance arrebatadora de Riz Ahmed, sem dúvida uma das melhores de 2020, a narrativa nos pega de jeito, sobretudo porque consegue, auxiliada por um ótimo trabalho do departamento de som, nos colocar no lugar do protagonista.

Porque, ao contrário do que muitos pensam, existem dezenas de tipos de surdez e, no caso de Ruben, não houve a perda completa de audição, mas um decréscimo de cerca de 75% que faz com que sons que antes ele ouvia de maneira cristalina se tornem barulhos ininteligíveis e palavras simples se transformem em enigmas indecifráveis. 

O filme, portanto, depende de seu design de som para dramatizar a jornada de Ruben. Os sons criados pelo departamento chefiado por Nicolas Becker nos colocam dentro da cabeça do protagonista e são fundamentais para a imersão do espectador de uma maneira que os recursos visuais, por si só, jamais poderiam alcançar.  

Todo esse trabalho permite, enfim, que enxerguemos mais beleza no silêncio. Uma das grandes belezas da arte é criar novas perspectivas para o público e o cinema não escapa disso. Pois, sem o barulho dos carros, entendemos que pode haver mais poesia no pôr do sol, no abraço do casal, nas crianças brincando. E é assim, partindo de uma perda que parecia irreparável, que podemos enxergar uma grande oportunidade para o recomeço. 


Vale Ver !




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