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'A Voz Suprema do Blues' exalta a cultura negra com grandes atuações | 2020

NOTA 8.5

Por Rogério Machado 

'A Voz Suprema do Blues', adaptação cinematográfica da peça do dramaturgo August Wilson,  não se estabeleceu como um dos lançamentos originais Netflix mais aguardados do ano porque prometia mais uma atuação irrepreensível da oscarizada Viola Davis (com chances reais de voltar a ser nominada em 2021) ou por ser um filme produzido por Denzel Washington. O longa que exalta a força negra através de um estilo musical característico, com inúmeras vozes negras consagradíssimas, é também esperado por ser o filme póstumo do fenômeno Chadwick Boseman, que segundo críticos e companheiros de elenco seria uma atuação lendária, capaz de dar a atenção que o ator nunca chegou a ter em sua tão marcante (e curta) passagem pelo showbiz. 


Ambientado na Chicago dos anos 20, o filme acompanha a tensão entre os músicos que aguardam em uma claustrofóbica sala de ensaio a lendária e revolucionária "Mãe do Blues", Ma Rainey (Viola Davis). Atrasada para a sessão de gravação, Ma trava uma batalha com seu produtor e seu empresário, ambos homens brancos, em defesa do controle sobre sua música. Enquanto a banda espera, o ambicioso trompetista Levee (Chadwick Boseman) – interessado na protegida (e possivelmente mais que isso) de Ma e determinado a trilhar seu próprio caminho na indústria musical – faz o clima esquentar entre os músicos com uma profusão de verdades que mudarão para sempre o rumo da vida de todos.

Sob a direção de George C. Wolfe ('Noites de Tormenta'-2008), 'A Voz Suprema do Blues' enaltece a cultura negra assim como também expõe seus medos e tribulações, que vão sendo costurados através do gênero musical batizado de 'música de negros e feita para negros'. É válido salientar algo que até já vimos em outras produções: existem lugares onde a música negra entra mas o negro não, e isso fica intrínseco  no texto afiado de Viola Davis, que faz de sua Ma Rainey uma das melhores coisas que vimos em se tratando de performance esse ano. Mas não para por aí, o melhor do filme de Wolfe é certamente a entrega do já saudoso Chadwick Boseman na pele de um audacioso músico que se torna um desafeto de Rainey por tentar brilhar mais que ela. Davis e Boseman protagonizam sequências antológicas que sem dúvida alguma hão de marcar as premiações em 2021.

'A Voz Suprema do Blues' nos diz sobre como a música serviu de refúgio para muito sofrimento negro desde a escravidão, onde o Blues se torna quase que um coadjuvante não só nessa trama mas na história da luta negra em toda a América. "...Quanto mais música no mundo, menos vazio. Os Brancos não entendem o Blues, eles ouvem mas não sabem de onde vem... não sabem que é a vida falando...você não canta pra se sentir melhor, canta porque é um modo de entender a vida..."  O trecho em questão, um desabafo de Ma Rainey, traduz a representação da música para o movimento negro; é muito mais que arte, é instrumento de luta e expressão. 

Com uma fotografia quente e radiante, 'A Voz Suprema do Blues' é um filme tecnicamente impecável e com grandes atuações, não funciona como uma cinebio da famosa 'Mãe do Blues', nem tampouco é um longa com pretensão de redefinir o conceito dentro dos filmes da linhagem do #blacklivesmatter , mas ainda sim toca na ferida com sutileza e claro, muito, muito blues.


Vale Ver !



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