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Em "AmarElo - É Tudo Pra Ontem", Emicida reinventa o passado para construir um presente de mais amor | 2020

NOTA 8.5

Por Eduardo Machado @históriadecinema

Para alguém como eu e para muitas pessoas do meu círculo social, a reação inicial ao receber a sugestão de assistir ao documentário “AmarElo – É Tudo para Ontem” é de não ter interesse. Afinal, somos do Rio de Janeiro, não somos de São Paulo. O rap não corre nas nossas veias como circula no sangue de muitos paulistanos e, mais do que tudo, não somos da “quebrada” como Emicida. Homens e mulheres de classe média, por volta dos 30 anos, esclarecidos, os quais, todavia, mal conhecem um dos maiores rappers do Brasil. Isso não seria um problema, não fosse pelo fato de que, ao não conhecê-lo, podemos deixar passar o que ele representa.

Para um problema de tal monta, Emicida tem um ditado iorubá na ponta da língua, com o qual inicia seu filme: “Exu matou um pássaro ontem, com a pedra que arremessou hoje.” Pois, na mitologia, quando Exu joga a pedra por trás do ombro e mata o pássaro no dia anterior, ele é capaz de recriar o passado e nos traz o ensinamento de que as coisas podem ser reinauguradas a qualquer momento.

Emicida, rapper, poeta, preto, da periferia, quando tem, então, a oportunidade de fazer um show no Teatro Municipal de São Paulo, não faz nada menos do que seguir a filosofia de Exu e matar o pássaro do passado. Não existiria Teatro Municipal sem mãos pretas, sem sangue preto, não é mesmo? Então, por qual motivo tantos pretos nunca haviam visitado o lugar?

É nesse momento que Emicida nos convoca a tentar consertar isso, promovendo uma aula de cultura brasileira, negra, ancestralidade, tentando passar para aquele que o assiste a importância daquilo que está acontecendo e, melhor, do que devemos fazer acontecer. E aqui falo no plural, porque, como Emicida destaca em diversas passagens, “tudo que nóis tem é nóis” e mais razão seria difícil que tivesse. É, portanto, mensagem de amor, de união, que prevalece muito mais do que os bastidores de um show musical. Você não precisa gostar de rap, muito menos ser fã do Emicida ou ser da “quebrada” para gostar do filme. Você só precisa ser gente.


Vale Ver !




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