'Mosquito' , premiado na Mostra SP esse ano, é um poderoso drama de guerra | 2020
NOTA 9.0
A guerra no pensamento e a pátria no coração
Por Raphael Camacho @guiadocinéfilo
Em seu segundo longa-metragem como diretor, o moçambicano João Nuno Pinto encontra dentro de uma fórmula de um roteiro não-linear, fragmentado, para contar o começo, meio e o fim da jornada dentro de uma guerra que encontra pelo caminho o medo, as incertezas e figuras que fazem o protagonista pensar sobre a própria existência. 'Mosquito' passa pela dura realidade da guerra e termina dentro de lições em busca de dignidade. Nos sentimos dentro de uma poesia embaçada, explicando as mais diversas formas de ativação do espírito de sobrevivência. Um trabalho muito interessante que tomara seja incluído no complicado circuito exibidor brasileiro. Um belo trabalho, sem dúvidas.
Na trama, conhecemos o soldado Zacharias (João Nunes Monteiro) que por vontade própria se alista no exército português e assim é enviado a Moçambique, na África, com a missão de defender a colônia portuguesa da invasão alemã. Seu pelotão acaba o abandonando porque o rapaz contrai malária. Ele se cura e resolve de maneira inconsequente ir atrás do seu pelotão que está há dias na sua frente. Enfrentando vários tipos de problemas e esbarrando com muitas pessoas, há momentos de silêncio e solidão onde o protagonista precisará encontrar forças para lutar contra sua mente e invocar assim um espírito de sobrevivência. O roteiro de 'Mosquito' é baseado na história real do avô do cineasta, que foi um dos soldados enviados à Moçambique na guerra.
Os diálogos se tornam rodadas construtivas sobre inflexões da vida e indagações sobre, desde já, um presente incerto. O fator fé chega forte nos momentos de perda da razão. Há um mix de elementos interessantes que contornam esse drama camuflado de filme de guerra (poucos tiros são disparados inclusive) em um grande espetáculo visual. 'Mosquito' é feito para ser visto em salas de cinema, onde com certeza ofereceria uma experiência ampliada, e é uma pena que nesse ano nossa única oportunidade de conferir o longa foi através da ótima programação da Mostra SP.
Uma pergunta importante seria sobre o mercado audiovisual por aqui. Porque filmes portugueses (ou de países co-irmãos de mesma língua da nossa) insistem em não chegar no circuito exibidor brasileiro? Seria um total desinteresse dos distribuidores? Infelizmente, é necessário sempre aguardar um festival acontecendo no Brasil para assim termos acesso.
Super Vale Ver !
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