'Antígona' remonta a famosa tragédia grega com criatividade e sem perder a essência | 2020

NOTA 9.0

Por Rogério Machado 

A tragédia grega 'Antígona', de Sófocles,  é uma das obras mais replicadas quando pensamos em peças teatrais. No Brasil, a história da mulher que vai até às últimas consequências para preservar a honra da família, teve uma montagem há alguns anos com a atriz Andréa Beltrão, que vez por outra retorna em cartaz nos teatros. A mais recente representação dessa história atemporal é uma produção canadense, falada em francês, que ressignifica essa trajetória de amor e resistência tão presentes na clássica peça. 

Antigone (Nahéma Ricci) é uma adolescente que vive uma vida tranquila em um bairro de classe média de Montreal. A tragédia atinge sua família quando o irmão mais velho de Antigone, Etéocle (Hakim Brahimi), é injustamente assassinado pela polícia durante a prisão de seu irmão Polynice (Rawad El-Zein), um traficante de pequeno porte. Com um irmão morto e o outro preso, e sendo ameaçados de expulsão para o seu país de origem, a família está mais dividida do que nunca e Antigone decide ajudar o irmão a fugir da cadeia num plano inusitado e super arriscado. 

A direção de Sophie Deraspe (cineasta praticamente estreante em longas), consegue se apropriar de uma história clássica e por sua vez sempre atual, e insere novos questionamentos: o mote que originalmente remete ao amor fraternal e a resistência à repressão das autoridades, permanece, mas ainda há espaço para abordar a questão dos refugiados , as barreiras da língua, a xenofobia, e a violência policial gratuita e truculenta, que infelizmente insiste em acontecer em pleno 2020. 

Por ser tão plural e ao mesmo tempo manter a essência da obra de Sófocles, essa nova versão para as telas, que segue sem previsão de estreia por aqui, merece a devida atenção não somente por abraçar temas urgentes e provocar um debate genuíno e necessário, mas por ser inventivo enquanto obra, no que diz respeito a montagem e ao design de produção por exemplo. Isso sem contar as honestas performances de todo o elenco, com destaque para a Antígona de Nahéma Ricci, que, apesar de jovem e ainda uma estreante, encarna com grande responsabilidade o papel título. 

Super Vale Ver !