'The Nest': Um drama sombrio em um ninho de aparências e ambição desmedida | 2020
NOTA 8.0
Por Karina Massud @cinemassud
Depois do premiado longa “Martha Marcy Mae Marlene” (2011), o diretor Sean Durkin retorna com o ótimo “The Nest” que gira em torno de Rory e Allison, casal que depois de passar 10 anos nos EUA volta para a Inglaterra, terra natal de Rory, que enxerga na mudança uma chance de ter de volta o antigo trabalho e lá fazer um grande negócio.
A trama se passa nos anos 80, época efervescente no mundo dos negócios, o auge dos yuppies, novos ricos que fizeram fortuna na bolsa de valores - ou você era “ganhador” ou “perdedor”, e tudo o que importava era o seu status. Rory é um típico produto dessa década, vivendo o sonho de ser rico, morar numa mansão e frequentar festas luxuosas num estilo de vida incompatível com sua real situação financeira. As aparências elegantes de uma elite britânica onde poucos são realmente bem sucedidos são desnudadas, a maioria vive de esnobismo para impressionar e causar inveja pois a pressão capitalista pra vencer na vida é maior que tudo.
Quando a família vivia em Nova York numa casa aconchegante eram próximos tanto física quanto emocionalmente. Depois de se mudarem pra mansão em Surrey, ela também personagem da história, o distanciamento foi crescendo até se tornar insuportável a ponto de cada um viver sua solidão num universo particular, fazendo vir à tona a certeza de que o ninho da família decididamente não é ali. O roteiro é desenvolvido num clima de que algo sobrenatural ronda a casa decadente. Seria um espírito vingativo, uma maldição ou apenas a energia negativa dos moradores atormentados e infelizes? O desconforto perdura e tudo vai ladeira abaixo em pouco tempo: negócios, família e convivência; a sensação é de que uma tragédia está prestes a acontecer.
Sean Durkin consegue fazer um contraponto incrível entre suspense e drama familiar, e a escolha do casal de protagonistas foi fundamental para isso: Jude Law com seu charme habitual vive Rory com brilhantismo, um homem de negócios que com seu carisma abre caminhos que prometem ser prósperos mas que nunca dão em nada. Ao contrário do marido, Allison (Carrie Coon em uma atuação extraordinária) é bem pé no chão e está preocupada com os devaneios e mentiras de Rory e com o dinheiro pra colocar comida na mesa da família quando a vida “de faz-de-conta” desaba.
O sonho americano, que diz que na terra do tio Sam você chega ao topo com trabalho duro, é desconstruído em “The Nest”. O casal vai para a Inglaterra quando não atinge o sucesso esperado na América e lá se depara com uma elite preconceituosa e com homens de negócios avessos à inovações. O resultado do filme não chega a ser de grande impacto como esperado no início, mas satisfaz pelo suspense, cinismo e pelo ótimo sabor amargo deixado no final.
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