'Moffie' vai muito além do que narrar a presença de gays nas forças armadas | 2020
NOTA 9.5
Por Rogério Machado
Tudo é ótica. A visão de um cineasta pode ser responsável pelo sucesso ou a derrocada de uma determinada obra, e esse olhar, que muitas das vezes representa algo íntimo e pessoal que alguém tem a respeito de algum assunto também pode agradar alguns como desagradar a outros, mas isso não tira o mérito positivo de um projeto. Em 'Moffie', que ainda segue sem previsão de estreia por aqui, o diretor Sul-africano Oliver Hermanus apresenta um olhar diferenciado, sensível e honesto sobre a homossexualidade nas forças armadas.
Na história Kai Luke Brummer é Nicholas Van der Swart, um jovem que sabe há muito tempo que é diferente. Por mais que tente, ele não pode viver de acordo com a imagem machista esperada dele por sua família. Mas o governo minoritário da África do Sul está envolvido em conflitos na fronteira angolana e todos os jovens brancos acima de 16 anos devem cumprir dois anos de serviço militar obrigatório para defender o regime do Apartheid. E, aos 19 anos, o rapaz é recrutado e encontra a sua existência em conflito com um sistema que simplesmente não pode aceitar quem ele realmente é.
Selecionado para o Festival de Veneza 2019, 'Moffie' (que no dialeto sul africano tem a ver com homem gay ou afeminado) aborda o momento histórico no início da década de 80, quando o regime comunista ganhava força e as forças armadas foram acionadas para combater o avanço do inevitável fim do Apartheid. Esse é só um dos prismas dessa trama plural que tem uma representação que vai muito além de um drama gay: nos fala da defesa da liberdade e da quebra de conceitos e preconceitos dentro e fora do exército, não só pelo tabu da homossexualidade ou a violência do machismo, mas também por mais uma vez nos rememorar da truculência da supremacia branca em tempos obscuros, que ainda nos assombram nos dias de hoje.
Adaptação do romance autobiográfico de André Carl van der Merwe, 'Moffie' tem sua marca na direção, mas é inegável todo o aparato de uma grande produção que se traduzem numa fotografia e direção de arte de alto nível, além claro de discretas mas não menos grandiosas performances da estrela em ascensão Kai Luke Brummer, e outros destaques competentes como Michael Kirch, Mathew Vey e Ryan de Villiers. O longa de Hermanus é forte e ao mesmo tempo esbanja sensibilidade ao abraçar temas tão pesados, sem apelar para o dramalhão ou apostar no modo hermético de fazer cinema que algumas obras acabam lançando mão para se auto afirmarem.
Super Vale Ver !
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