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'Nomadland' é um grito de socorro da resignada classe baixa americana | 2021

NOTA 9.0

Por Karina Massud @cinemassud 

Depois do colapso financeiro de 2008 nos EUA muita gente perdeu emprego, casa, família ou qualquer tipo de esperança, e foi aí que surgiram os nômades (por isso o título do filme, em tradução literal “Terra dos Nômades”), grupos de americanos que cruzam o país em busca de subempregos temporários, vivendo em trailers, dormindo em estacionamentos e algumas vezes confraternizando em festas no acampamento ou bares de beira de estrada. E essa realidade penosa que lhes restou  é retratada em “Nomadland”.

Fern é uma dessas milhares de pessoas que perdeu tudo e caiu na estrada pra tentar recomeçar, trabalhando no centro de distribuição da Amazon e na limpeza de banheiros públicos com um salário que mal dá pra comida e gasolina. Ela sempre frisa que é uma “sem casa”, e não uma “sem-abrigo”, tentando manter a pouca dignidade que resta. Frances McDormand se entrega de corpo e alma em mais uma atuação arrebatadora que deve ser indicada a muitos prêmios. Resignada em seu sofrimento e desgraças  infindáveis, ela é mais introspectiva do que desesperada, como se esperaria de alguém numa situação extrema como a dela. 

“Nomadland” é inspirado no livro “Nomadland: Surviving America in the 21sth Century” de Jessica Bruder, que acompanha o quotidiano dessas pessoas que viraram mão-de-obra barata e descartável, muitos já na idade de se aposentar e levar uma vida sossegada. Vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza e do Prêmio do Público no Festival de Toronto de 2020, o filme está cotadíssimo para o Oscar e Frances McDormand pode concorrer pela sexta vez (dessa vez como atriz e também Melhor Filme, pois é produtora do longa). McDormand  tem dois Oscars de Melhor Atriz: um por “Fargo” (1996) e outro por “Três Anúncios para Um Crime” (2017)

A trama mistura realidade com ficção pois os nômades são reais, além de lançar um olhar terno e sensível sobre essas pessoas que são vítimas do capitalismo selvagem que causa esse abismo social. A diretora chinesa Chloé Zhao (que dirigirá o aguardado “The Eternals” da Marvel) não romantiza a crise muito menos faz sensacionalismo dela, apenas a retrata com realismo sinalizando que uma solução está longe de aparecer. 

O visual do longa é impecável, passeando por paisagens estonteantes com desertos inóspitos, um céu de cores incríveis e florestas de troncos gigantescos. As cenas contemplativas da protagonista dominam a trama, quando ela reflete sobre sua infância, seu marido e momentos felizes tão distantes da nova realidade; além da natureza ajudar na composição emocional fortíssima dos personagens nessa jornada solitária de autodescoberta, amizades efêmeras e despedidas sem fim. Não há como escapar da melancolia.

Se fosse pra definir “Nomadland” em uma palavra ela seria “desamparo”. O mesmo abandono e sensação de mãos atadas que temos ao final da trama. 


Super Vale Ver !




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