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'A Escavação' recria uma descoberta espetacular e mostra a importância de conhecermos nosso passado | 2021

NOTA 8.5

Por Karina Massud @cinemassud 

Até o final dos anos 30 acreditava-se que o povo anglo-saxão  do século 7 era bárbaro, sem cultura, arte elaborada, comércio e uso de moeda. Até que em 1939, às vésperas da Segunda Guerra Mundial, foi feito um achado nos montes de Sutton Hoo, propriedade no condado inglês de Suffolk que mudou por completo esse conceito até então vigente. Foi uma descoberta importantíssima, como um elo perdido que trouxe luz à história britânica, achado que se deve à viúva frágil e rica Edith Pretty e a Basil Brown, o arqueólogo amador e autodidata por ela contratado para escavar suas terras, chamado pejorativamente de “escavador” por não ter instrução formal, embora soubesse mais do que o time inteiro do Museu Britânico. Foi ele quem descobriu o navio funerário de Sutton Hoo com seu instinto e experiência, e só posteriormente, depois de sua morte, levou o crédito pelo achado.

Havia uma atração entre Edith e Basil vinda da afinidade cultural e paixão por desbravar o desconhecido e divulgá-lo para o mundo, mas a rigidez da sociedade, o casamento falido dele e a doença dela os deixaram afastados amorosamente, mas ligados pelo objetivo em comum. Os protagonistas dão ainda mais brilho a essa história fascinante: Carey Mulligan maravilhosa como a melancólica e elegante viúva que se apega nesse tesouro e no amor pelo filho para prosseguir; e Ralph Fiennes sempre impecável como o arqueólogo apaixonado pelo seu ofício apesar de toda humilhação sofrida.

Adaptado do romance do escritor e jornalista John Preston, “A Escavação”, novo drama da Netflix, recria esse episódio fundamental para a história e mostra o quanto ainda temos por descobrir sobre a humanidade, achados que se devem boa parte à curiosidade e persistência dos profissionais da área. Descobertas arqueológicas nunca se esgotarão e muitas surpresas ainda estão por vir debaixo de incontáveis camadas de terra.

O navio de 27 metros de comprimento virou um navio fantasma pois não sobreviveu a mais de um milênio enterrado, dele sobraram as marcas na terra além de vários esqueletos, artefatos preciosos como moedas, jóias, uma espada e um incrível capacete de ouro trabalhado que hoje estão expostos no Museu Britânico em Londres. O dono desse tesouro? Não se sabe até hoje, mas provavelmente era alguém importante dada a riqueza dos objetos e o fato do navio ser sua tumba e de seus serviçais.

A descoberta de Suffolk serve de fundo pra reação que cada personagem tem perante a finitude da vida e as perspectivas da morte, com uma guerra para explodir, uma doença em fase terminal e um navio funerário. Uma belíssima narrativa sobre o passado e sua importância para conhecermos o presente e refletirmos sobre o futuro, sobre o que vamos deixar para as gerações vindouras. 

Um filme que define poeticamente como a vida é um sopro e dela nada se leva, nossa herança é perpetuada pelos objetos e cultura que deixamos aqui na terra. “A Escavação” é lindo e satisfaz a sede por ciência e também por emoção.


Vale Ver !




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