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'Querência' mostra um Brasil invisível... e solitário | 2020

NOTA 8.0 

Por Rogério Machado 

É admirável o que alguns cineastas conseguem fazer com muito pouco e dentro de uma temática a princípio simplória. Helvécio Marins Jr, escolhe o chão de sua própria terra, Minas Gerais,  para nos trazer uma mistura de realidade e ficção de um modo tão orgânico que parece que estamos acompanhando uma câmera escondida captando imagens do cotidiano real dos personagens escolhidos para nos mostrar uma história de paixão, solidão e sonhos.


Marcelo (Marcelo Di Souza) vive no interior  de Minas, ama a vida no campo e trabalha como vaqueiro, mas sonha em se tornar narrador profissional de rodeios. Ele divide esse sonho com Kaik (Kaik Lima), que também atua como locutor nos rodeios. Um dia a fazenda em que vive sofre um grave assalto, com muitas cabeças de gado roubadas, e o incidente o impacta profundamente. Com a ajuda de seus melhores amigos, encara o desafio de se reerguer, mudar de cidade e então dar seguimento ao seu maior sonho. 

O motivo do longa ser tão próximo de um registro documental, é exatamente por retratar o cotidiano de pessoas reais. Sim, não atores no elenco e vivendo realidades que são suas próprias verdades. O trabalho com atores que jamais haviam pisado num set foi facilitado pela amizade de longa data entre Helvécio e o elenco. “Marcelo já tinha um lado artístico, assim como Kaik. Eles escrevem versos, fazem locução. Então, foi um trabalho de preparação. Investi muito tempo do projeto nisso. Tecnicamente, é a preparação de elenco, mas quem faz sou eu mesmo, é algo de que gosto”, revelou o diretor em uma entrevista. 

O câmera de Helvécio é cirúrgica ao captar aquele universo. Contudo, ao mesmo tempo, a realidade é mostrada com certa dose de lirismo, claro, amparada pela fotografia exuberante de Arauco Hernández Holz, que faz de sequências que poderiam soar genéricas em um outro contexto, ganharem proporções muito maiores, com honestidade e sensibilidade. Entre tantas, destaco a que o personagem de Marcelo liga o rádio, sintoniza uma moda de viola, enquanto olha para uma imensidão escura da varanda de sua casinha. A solidão de Marcelo atravessa a tela nesse momento e atinge o espectador. Mesmo dentro de um universo distante ou até invisível para alguns, a direção de Helvécio consegue a proeza de mudar algo lá no fundo... até do mais cosmopolita dos indivíduos. Comprova-se assim, mais uma vez,  o efeito mágico que o cinema tem. 


Vale Ver!






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