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A modernização do clássico em ‘Godzilla vs Kong’ | 2021

NOTA 8.0

Salve a Mothra!

Por Vinícius Martins @cinemarcante 

O cinema experimenta, desde os seus primórdios, o uso de uma comunicação gestual para expressar sentimentos e intenções. Filmes mudos, pioneiros da história audiovisual em sua maioria captados em preto e branco no tradicional formato de tela 4:3, possuem até hoje um charme peculiar pela simplicidade que emanam ao revelarem ao público dezenas de informações sem precisar fazer uso de diálogos verbalizados (expositivos ou não). Em 'Godzilla vs Kong', que chega aos cinemas brasileiros após sofrer alguns adiamentos (compreensíveis em tempos de pandemia), podemos ver o resgatar desses elementos gestuais nas cenas de ação e combate entre os dois titãs icônicos da cultura popular mundial; e meus amigos, é um colírio aos olhos!


O novo filme do MonsterVerse criado pela Legendary e distribuído pela Warner é uma atípica obra que, embora se perca em seu miolo pseudo-complexo, consegue encontrar a si mesma através dos detalhes minuciosos de uma composição primorosa que se ergue como uma roupagem moderna ao cinema mudo. - e se faz valer justamente por esses momentos. Kong e Godzilla não precisam falar para definirem seus propósitos, e a exímia linguagem corporal de ambos (criada com um perfeccionismo latente e merecedor de Oscar pela equipe de CGI) é de uma legível compreensão universal. Tem porradão na cara, soco na costela, rabada na nuca e até um momento à lá 'Batman vs Superman: A Origem da Justiça'. Aqui temos sequências inteiras sem humanos (e, por consequência, sem diálogos) e que, curiosamente, não apenas funcionam perfeitamente bem como também são o ponto mais alto do filme.

As escolhas da direção de Adam Wingard foram acertos belíssimos. A composição das cenas - indo desde os ângulos da fotografia (alguns até ousados, eu diria), passando pela paleta de cores que valoriza a contemplação dos monstros e chegando ao design de produção pulsante nas destruições ocorridas nas batalhas colossais - é uma série de momentos épicos para o currículo de ambos os monstros. A trilha sonora composta por Tom Holkenborg é pulsante e discreta, passando quase imperceptível enquanto dita o compasso urgente dos confrontos. Contudo, se 'Godzilla vs Kong' é tecnicamente uma obra de arte gráfica, seu pecado se dá na construção de suas tramas secundárias e tentativas de alívios cômicos desnecessários. O maior problema está em alguns aspectos do roteiro e nos atalhos que ele toma para justificar o que não precisa ser justificado - que bastaria apenas mostrar.

'Godzilla vs Kong' infelizmente replica os erros de seus filmes anteriores, onde alguns diálogos desnecessariamente explicativos se fazem como meros ecos do que está sendo mostrado na ação - como se os idealizadores subestimassem a intelectualidade do seu público ou superestimassem sua obra, atribuindo à ela uma complexidade descabida. A insustentável cadência do arco estrelado por Millie Bobby Brown, Brian Tyree Henry e Julian Dennison é um peso quase morto, e poderia ser facilmente substituído por trinta segundos mostrando os procedimentos operacionais da Apex Cybernetics. Um desperdício de talentos, principalmente Tyree Henry, que destoa de seus papéis imponentes ou simpáticos (vide 'As Viúvas' e a série 'Atlanta') ao assumir a persona de um teórico da conspiração desinteressante e desprovido de carisma.

'Godzilla vs Kong' se prova em seus reais protagonistas, os personagens-título, que são espetaculares em todos os sentidos do termo. Os trabalhos de escala são belíssimos, e a iluminação das cenas é a melhor do gênero desde 'Círculo de Fogo', de 2013 (que também tem uma sequência noturna em Hong Kong, com prédios brilhando seus neons coloridos em meio à glamourosa e poética destruição que se instala ao redor). Quem é fã dos kaijus terá um entretenimento e tanto para prestigiar nas telonas - ou telinhas -, e dificilmente sairá infeliz com o resultado final do tão esperado embate entre os dois maiores nomes entre os monstros gigantes mundialmente conhecidos. Mesmo não sendo um cinema experimental e nem reinventando a roda, o longa é um prato cheio para quem busca uma diversão casual, rápida e caprichada na pós produção, além de ser um filme feito por quem de fato ama os monstros a quem deu vida nessa nova versão hollywoodiana. Ao modernizar personagens clássicos para apresentá-los para as novas gerações, dá-se também um presente para os amantes saudosistas de ambos os lados da moeda. Aqui finalmente temos sequências grandiosas para as tais figuras grandiosas, e isso é lindo de se assistir.


Vale Ver!




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