'Meu Pai' questiona o que somos diante da irremediável perda de sanidade | 2021 - Crítica 2
NOTA 9.0
Por Eduardo Machado @históriadecinema
Anthony Hopkins é o rosto de um dos assassinos mais famosos do cinema. O olhar hipnótico de Hannibal Lecter amedrontou milhões de espectadores ao redor do mundo, mas, depois de assistir a “Meu Pai”, todavia, não consigo mais dizer com absoluta convicção que Hannibal é o personagem mais assustador de Hopkins. Afinal, você tem mais medo de um assassino ou de perder a sanidade?
O que somos nós, quando praticamente incapazes de nos reconhecer no espelho? O que é alguém sem memória? Desencontramo-nos de nós mesmos? Ainda que por menos de 2 horas, o cineasta francês Florian Zeller consegue nos passar uma ideia do que é viver assim. Adaptando a peça de teatro escrita por ele mesmo, o filme é uma aula de direção ministrada por um, acreditem se quiser, estreante em longas. Não é um filme, como se poderia imaginar, carregado por suas estrelas, Hopkins e Olivia Colman. Há um trabalho brilhante por trás.
Indicado ao Oscar juntamente com outras 2 adaptações do teatro (“Uma Noite em Miami” e “A Voz Suprema dos Blues"), Zeller ensina a seus pares como manter vivo o poder do palco sem deixar de usar as valiosas ferramentas do cinema. O apartamento que, de repente, está diferente do que era um minuto antes e a porta de um armário que se abre para o corredor de um hospital são bons exemplos disso.
É de se dizer que Zeller conta com um elenco de 1ª linha, mas o show mesmo fica por conta de Anthony Hopkins. Ele consegue transmitir todas as sensações de seu personagem, um narrador não confiável no qual queremos muito confiar. E o que fazer quando não podemos? E quando não podemos mais confiar em nós mesmos?
Um filme, diante de tudo, perturbador, na medida em que retrata um dos maiores medos do ser humano, mas que, por outro lado, deve ser acolhedor para as famílias que têm que conviver com o problema. Um problema que nós, jovens e saudáveis, não gostamos de pensar que existe, porque nos lembra da nossa insignificância. Mas precisamos. Porque, não custa lembrar, não somos nada se esquecemos.
Super Vale Ver!
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