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'The Letter Room' transita entre o prazer de stalkear à moda antiga e o lado humano dos condenados à morte | 2021

NOTA 8.5

Por Karina Massud @cinemassud 

O voyeurismo sempre existiu, aquele prazer de xeretar e acompanhar a vida alheia por motivos diversos; amor, inveja ou simplesmente curiosidade. Aqui vamos falar do stalker antiquado, aquele que abre e espiona cartas alheias porque certamente as vidas ali contidas são mais interessantes que a sua própria, e do desdobrar curioso dessa prática.

Apresentado no Festival de Tribeca de 2020 e indicado ao Oscar 2021 de Melhor Curta-metragem, “The Letter Room” conta a história do policial Richard, que cansado de trabalhar diretamente com os detentos, pede transferência para um serviço burocrático na sala de correspondências, onde cadastra, digitaliza e faz censura das cartas recebidas e enviadas. À primeira vista parece um trabalho chatíssimo, mas que logo se mostra uma diversão na vida do policial.

Em 32 minutos de projeção, a diretora Elvira Lind consegue traçar o perfil psicológico de Richard (Oscar Isaac, marido da cineasta e excelente no papel) com profundidade, o que faz a narrativa focar na vida  do protagonista e não no drama dos detentos do corredor da morte ou na relação guarda x detento – esqueça esses roteiros batidos. O policial se encanta especialmente pelas cartas da moça Rosita para o amor de sua vida: elas são muito bem escritas, detalhadas, prendem o leitor e têm um toque picante que lhe dá tesão. Uma vida tão atraente em que ele mergulha feito uma novela, com capítulos inéditos toda semana. Sua curiosidade acaba ultrapassando a sala de trabalho e ele vai atrás da remetente por um motivo que prefiro deixar em off para evitar os temidos spoilers. 

A solidão dos detentos é mostrada em paralelo com a própria solidão de Richard que, apesar de ser livre, passa horas sentado sozinho em frente à tevê, comendo comida congelada junto ao cachorro de estimação numa vida tediosa e medíocre. As cartas são um ponto de luz e alegria naquele ambiente cinzento e de silêncios prolongados.

O filme também traz à luz o lado humano dos prisioneiros que estão prestes a serem executados: paramos para pensar que eles também têm família sofrendo com essa dura realidade, que têm inseguranças e  carências.  Nada lhes restou além de poucas horas de banho de sol e vislumbres do mundo lá fora através das cartas. Um ótimo curta que nos mostra de forma inusitada a necessidade que todos têm de ser amados, sejam livres ou não. 


Vale Ver!




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