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Dica do Papo: 'Febre do Rato' | 2012

Por Rogério Machado 

Poucos cineastas no Brasil são tão políticos na abordagem quanto o pernambucano Cláudio Assis.  E digo mais; na atual conjuntura, Assis talvez seja o único a explorar uma linguagem que, para muitos, é transgressora (ou quem sabe vulgar?). Bem, eu pelo menos entendo que arte só é vulgar quando mal interpretada pelos olhos de quem a observa. Em 'Febre do Rato', que  entrou recentemente no catálogo da Netflix, percebemos em cada frame mais ousado o tom de protesto, que vai muito além de um corpo nu. 


Na história conheceremos Zizo (o sempre maravilhoso Irandhir Santos), que dá vida a um poeta inconformado e anarquista. O homem, que gosta de recitar poesias aos quatro cantos, banca a publicação de seu tabloide, cujo nome dá título ao filme.  Em seu mundo particular, onde o sexo é algo tão corriqueiro quanto fumar maconha, ele conhece Eneida (Nanda Costa). Zizo logo sente um forte desejo por Eneida, mas, apesar de seus constantes apelos, ela se recusa a ter sexo com o rapaz. Isto acaba transtornado a vida do poeta, que passa a sentir falta de algo que jamais teve.

A obra de Assis ('Baixio das Bestas' e 'Amarelo Manga') está completando dez anos de lançada, mas parece ter sido rodada ontem. Em mais uma parceria afiada com o roteiro de Hilton Lacerda, 'Febre do Rato', lá em 2011, parecia prever o domínio da caretice, o desmantelamento da cultura no país, e o flerte com a repressão e a ditadura que tomou conta do país desde as eleições de 2018. Se analisarmos os trabalhos de cineasta, vamos perceber que ele mantém a mesma pegada provocadora, que propõe debates, ainda que pareça distribuir cenas despretensiosas ao longo da projeção. 

Com 'Febre do Rato' Assis claramente dá visibilidade aos invisíveis. A crítica à uma sociedade que esconde o que acha feio, pobre e sujo é patente. A alfinetada na hipocrisia de um país que varre pra debaixo do tapete os desfavorecidos, (aqui representado pela periferia de Recife- PE), é só um entre tantos os debates que o longa propõe. Estamos diante de mais um entre tantos marcos do nosso cinema, que aqui se apresenta mais ferino do que nunca. 




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