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'Proibido Nascer no Paraíso' revela o lado obscuro de um dos lugares mais bonitos do país | 2021

NOTA 9.0

Por Rogério Machado

A história documentada por Joana Nin em 'Proibido Nascer no Paraíso', que chega na tevê e no streaming à partir desse final de semana, é mais uma dentre tantas as inacreditáveis que esse país produz. Mas antes de discorrer sobre o documentário, algumas informações são pertinentes: desde 2004 não existem partos feitos na ilha de Fernando de Noronha. A única unidade de obstetrícia  que existia no local foi extinta e todos os partos desde então são feitos na capital de Pernambuco, Recife. Existe um controle acompanhado de maneira ferrenha pelo sistema de saúde e as gestantes devem deixar o local pelo menos 2 meses antes do parto. Os motivos para tamanho cuidado? São muitas especulações, mas as autoridades afirmam principalmente ser pelo bem da criança, pois a localidade não possui estrutura para possíveis complicações em um parto. 

A documentarista em sua primeira visita ao conjunto de ilhas,  ficou intrigada com uma frase que ouviu: “Aqui é proibido nascer.” Ao investigar isso, descobriu que as grávidas são obrigadas a ir para Recife muito antes dos seus partos. Em entrevista a cineasta revelou: “Conversando com pessoas da comunidade, entendi que quem vive lá há muitos anos acredita que os nascimentos foram suspensos para evitar que estes bebês reivindiquem direitos no futuro. Como as terras são públicas, os terrenos não podem ser oficialmente vendidos. Eles são concedidos por meio de um Termo de Permissão de Uso – TPU, um documento muitíssimo cobiçado. E nativos tem direito a solicitar a inclusão de seu nome numa lista do programa de habitação local, em busca do mesmo espaço disputado por empresários do turismo”.

A voz da resistência é de Babalu, que tem um negócio local e conseguiu adiar em 4 semanas a ida para Recife. Nas ligações que recebe, ela narra para a câmera de Joana que as autoridades dizem que só estão preocupadas com a criança. O ar de ironia que permeia as falas de Babalu deixa claro que ela não engole aquela afirmação. Não só ela como todos os nativos que precisam se deslocar e se afastar da família, antes e depois do parto. 

Segundo alguns depoimentos durante a projeção, ficamos sabendo que as ilhas foram dominadas por grandes empresários desde a emancipação do local e os nativos não passam de meros figurantes tentando viver - cada um à sua maneira -, sem influenciar na rotina capitalista que foi construída com o passar dos anos. 

O lado duro na construção da narrativa documental é amenizado pelo lirismo das cenas em cenários deslumbrantes que a natureza levantou: mães e filhos em banhos nas piscinas naturais do paraíso, barrigas enormes e seios nus em ensaios pré-natal, e um belo flagra de tartaruguinhas recém nascidas procurando o caminho do mar. 'Proibido Nascer no Paraíso' é mais uma dentre tantas histórias sobre a indecência do ser humano. Depois do direito de nascer, o que mais nos tirarão? 


Super Vale Ver!



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