Tem no Telecine! 'A Escolha de Sofia' | 1982
Por Rogério Machado
Recentemente o termo 'escolha de Sofia' vem ganhado um sentido renovado e ainda mais doloroso com o colapso da saúde em função da pandemia do Novo Corona VÃrus. Quem viu o filme de 1982 estrelado pela oscarizada Meryl Streep (que aqui ganhava sua segunda estatueta pela Academia), sabe que ela deveria escolher quem iria viver entre seus dois filhos. É claro, que esse é só meu modo de contextualizar aos nossos dias para abrir esse texto, mas não muda nosso conceito sobre imaginar o que a personagem de Meryl Streep viveu ou o que os profissionais da saúde vivem todos os dias quando precisam escolher a quem dão leitos ou precisa ser entubado.
Somos levados ao ano de 1947, quando Stingo (Peter MacNicol), um jovem aspirante a escritor vindo do sul, vai morar no Brooklyn na casa de Yetta Zimmerman (Rita Karin), numa espécie de república que alugava quartos. Lá conhece Sofia Zawistowska (Meryl Streep), sua vizinha do andar de cima, que é polonesa e fora prisioneira em um campo de concentração, e Nathan Landau (Kevin Kline), seu namorado, um carismático judeu dono de um temperamento totalmente instável. Em pouco tempo os três tornam-se muito amigos, sendo que Stingo não tem a menor ideia dos segredos que Sofia esconde, quando ainda estava nos campos de concentração, assim como a insanidade de Nathan, cujos indÃcios se revelam aos poucos, com drásticos picos de humor.
A direção de Aln J. Pakula - o mestre por traz de obras como 'Todos os Homens do Presidente' (1976) e 'O Dossiê Pelicano' (1993) - é sutil ao abordar o drama dos judeus durante a Segunda Guerra e aposta todas as fichas nas relações dentro desse possÃvel triângulo amoroso, que toma boa parte da trama. É como se ele nos desarmasse para o baque da sequência final, quando voltamos no tempo para reviver com Sofia o duro momento de dor com a famosa proposta infame.
Aos poucos vamos percebendo que o tema central do filme não é a relação doentia entre Sofia e Nathan. Sofia e sua história pessoal, eis o ponto central da narrativa. O filme é baseado no livro homônimo de William Styron, um escritor norte-americano sulista, grande nome da literatura americana do século XX, e que tem em Stingo seu alter ego. O autor compõe um painel emocionante de uma história baseada em fatos reais. O que não é real, afinal, em um campo de concentração? Ali não cabem mentiras e dramatizações. E o ponto alto do roteiro é justamente a precisão com que, à medida que o filme avança, a história de Sofia, na Polônia, e sua dolorosa passagem por Auschwitz, vão sendo reveladas, em toda sua crueldade e covardia.
'A Escolha de Sofia' está disponÃvel no streaming do Telecine.
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