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Um jumento como confidente em 'Minhas Férias com Patrick' | 2021

NOTA 8.5

Por Rogério Machado 

Me lembro de já ter considerado em publicações anteriores que o  discutir de temas relevantes no cinema não está atrelado a um gênero em específico. Pode-se falar sério com humor e ironia, como vimos em 'Bela Vingança', filme indicado ao Oscar que trata da cultura do abuso com acidez e pitadas de humor negro. Na comédia que chega essa semana aos cinemas (aos poucos abertos diga-se de passagem), o cômico domina, mas é pelo bem maior de uma mensagem que prega amor próprio e autoconfiança. 'Minhas Férias com Patrick' , que foi selecionado para Cannes 2020 e passou pelo Festival Varilux de Cinema Francês, reafirma que franceses ainda sabem fazer comédias de qualidade. 


No filme  Laure Calamy dá vida a professora primária Antoinette Lapouge, que aguarda ansiosamente o verão, para passar uma semana romântica com seu amante, Vladmir (Benjamin Lavernhe). Porém, ele de última hora cancela os planos pois irá viajar com sua mulher e filha, mas 
Antoinette  não se dá por vencida, e decide seguir a família dele até Cevenas, uma região montanhosa e turística no centro-sul da França. Chegando lá, a única companhia da moça será um burro - o Patrick do título - animal que serve de companhia aos 'trilheiros' e ocasionalmente também pode funcionar como meio de transporte. 

A condução de Caroline Vignal é de uma destreza admirável. Uma vez que apresenta o universo dessa mulher com muito humor (afinal se trata de uma comédia), - amparada pelo carisma nato da ótima Laure Calamy - mas ao mesmo tempo com fineza e sensibilidade ímpares. Em certa altura, a amizade de Antoinette  com o jumento Patrick perde a verve pastelão e começa a trilhar pelas pegadas das comédias agridoce.  

Antoinette se vê à sombra de um homem que talvez nunca a assumisse. Surge então a redescoberta de uma mulher que ela havia perdido de vista: autossuficiente, corajosa e que não apoia sua felicidade em outra pessoa, a não ser nela mesma. A virada de chave na trama é sobretudo notada pelo brilhantismo com que Calamy conduz as mudanças que vão ocorrendo com sua personagem ao lado do animal. Um confidente que só ouvia e nada opinava, certamente a faria pensar mais sobre o que ela estava fazendo com sua vida. 
 
Inspirado no livro “Viagem com um burro pelas Cevenas”, do escocês Robert Louis Stevenson, publicado em 1879, o roteiro é também de Vignal, que adapta e atualiza a experiência do próprio romancista, que contou sobre sua viagem. Em entrevista a cineasta disse: “A relação entre o burro e o autor é contada como se fosse uma comédia romântica. Num primeiro momento, eles não se suportam, mas depois começam se conhecer melhor, e tornam-se inseparáveis. Esse é o ponto de partida do filme, o resto foi eu quem criei”, disse ao site australiano SBS. 


Vale Ver!



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