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“Garota Estranha” e a luta contra o antiquado patriarcado indiano | 2021

NOTA 8.5

Por Karina Massud @cinemassu

Em pleno século 21 ainda existem sociedades onde a mulher é um indivíduo inferior que está sempre em segundo plano, não pode trabalhar e ter sua independência, nasce para um casamento arranjado com alguém que mal conhece, ter filhos e cuidar da casa. Na Índia, principalmente em castas médias e baixas, a vida para as mulheres corre dessa forma e gera muita infelicidade.

“Garota Estranha” é um drama com pitadas de comédia que acompanha a viúva recente Sandhya, que enfrenta uma viuvez estranha (talvez daí o título nacional), pois seu casamento de cinco meses foi arranjado, ela mal conhecia o marido e agora  não sente absolutamente nada, pois ela não consegue chorar e só pensa em entrar na internet pra conseguir alguns snacks com Pepsi pra fazer um lanche. Uma indiferença que deixa a família do falecido irritada e cobrando um luto que ela não consegue sentir. 'Livramento' seria o sentimento mais apropriado para ela naquele momento.

A morte foi reveladora pois ela descobre através de uma foto que o falecido tinha uma amante, uma ex-namorada de escola que ele nunca esqueceu. Sandhya vai atrás dela e isso acaba por dar uma guinada em sua vida quando ela descobre na amante uma mulher bem sucedida profissionalmente e livre pra fazer o que quiser. Essa descoberta faz com que soe dentro dela um alarme que desencadeia mudanças bruscas, mas benéficas. Afinal sair da zona de conforto dói, mas é recompensador. 

O choque de culturas e classes sociais é escancarado na narrativa: uma executiva emancipada x uma viúva de espírito livre mas ainda presa nas velhas tradições quase nunca questionadas. Sandhya quer liberdade! O filme mergulha também nas várias faces do luto indiano - uma cômica inclusive -, visto que pela tradição o velório dura 13 dias. As famílias se reúnem e ao invés de estarem devastados, estão fofocando, os adolescentes dando um amasso gostoso, os homens se impondo pra mostrar quem manda e a mãe do morto cobrando: “a viúva pode beber Pepsi durante o velório?”

A protagonista de “Garota Estranha” se encontra nessa jornada de autodescoberta e dilemas; sua indiferença a faz enxergar a prisão das cobranças e frustrações da família disfuncional que a impedem de tomar as rédeas da própria vida. A escritora Doris Lessing tem um livro cujo título genial define a situação de Sandhya e de tantas outras pessoas de culturas diversas: “Prisões que Escolhemos pra Viver”. Nossa heroína enxerga a luz, sai do casulo e segue em frente, quem sabe servindo de inspiração pra tantas outras mulheres aprisionadas numa vida frustrante.


Vale Ver!




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