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A desnecessidade de um contexto para 'Mortal Kombat' | 2021

NOTA 6.0

Porradas, raios e rasteiras marotas

Por Vinícius Martins @cinemarcante 

Um dos maiores acertos de 'Sonic: O Filme' (2020) foi não subestimar seu público. Partir do pressuposto de que quem o assistiria conhece o personagem e suas capacidades foi algo interessante para o desenvolvimento do velocista azul, e essa estratégia funcionou mesmo se tratando de uma obra cujo público era majoritariamente infantil. Em contraponto, 'Warcraft: O Primeiro Encontro entre Dois Mundos' (2016) levou demais a regra de "todos me conhecem" e superestimou os espectadores em vários momentos, divagando-se em excessivos fan-services que se davam, por muitas vezes, de forma disfuncional e gratuita. 'Mortal Kombat', por sua vez, é mundialmente famoso mas não necessariamente conhecido; isto é, todo mundo já ouviu falar mas poucos sabem sua mitologia de fato. E é entre Sonic e Warcraft que 'Mortal Kombat' decidiu se estabelecer, conseguindo o incrível feito de simultaneamente subestimar e superestimar seu público.

O que temos aqui é um caso a ser estudado. Para os amantes do jogo tradicional, o fan service está na violência gráfica que salta aos olhos, nos efeitos visuais de altíssima qualidade, e nas finalizações sanguinolentas e frases pontuais que são marca registrada de seus icônicos personagens: Fatality, Animality, Stage, "Get over here!", "Finish Him", "Kano Wins" e o pulsante "Flawless Victory". Nesse quesito o longa é um prato cheio, mas como estrutura cinematográfica há incontáveis falhas. O filme não é inassistível, mas suas incoerências de roteiro são gritantes, principalmente por conta de conveniências forçadas e escapismos que soam sem naturalidade até para os padrões do universo apresentado em tela. O maior defeito dessa adaptação, acredito eu, é a pífia tentativa de aplicar um contexto ao porradeiro desenfreado dos games - o que o faz ter diálogos excessivamente expositivos. 

Enquanto a conversão midiática de 'Sonic' se deu com leveza e 'Warcraft' pareceu ser destinada exclusivamente aos fãs, 'Mortal Kombat' tem lá seu mérito por se esforçar para integrar o grande público ao seu universo e dar uma motivação para aquilo tudo (como se de fato alguma justificativa fosse necessária). O problema é que essa integração acontece por meio de um personagem insosso e pouco carismático, que está ali nitidamente para ser a parcela do público que não sabe de nada sobre Mortal Kombat. Contudo, se importar de verdade com esse personagem novo é uma missão que beira o impossível, e isso vale para o fã e para o marinheiro de primeira viagem. O filme quer que seu caráter de urgência seja levado a sério mas não dá ao trabalho de se explicar e nem se justifica dentro de sua própria justificativa, deixando várias lacunas abertas para a especulação (desnecessária) dos espectadores. As lacunas abertas não são aquelas do tipo que fazem você ficar pensando no filme após a sessão, não; são questões de coerência que ferem a narrativa da obra dentro de si mesma.

Assim sendo, 'Mortal Kombat' subestima seus espectadores com a inserção de um personagem fraco em um contexto auto incoerente para justificar a própria existência, e os superestima ao acreditar que as perguntas mais simples são dispensáveis de respostas - como se fossemos adivinhar, por exemplo, as razões de os vilões não poderem invadir a Terra antes de vencer o décimo torneio. O roteiro só diz "é desse jeito e aceite sem questionar, porque não importam os porquês, só os fins". Uma pena, na verdade, dado o potencial que o projeto tinha de elevar o nível das adaptações de jogos para as telas de cinema. Vale a pena como entretenimento devido às cenas de luta e ao belo trabalho de coreografia, mas é só.


Vale Ver Mas Nem Tanto!




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