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A reinvenção da própria franquia em 'Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio' | 2021

NOTA 8.0

Uma história de amor, de aventura e de magia negra

Por Vinícius Martins @cinemarcante 

Quando estreou, lá no longínquo ano de 2013, o primeiro filme da franquia 'Invocação do Mal' chegou aos cinemas se impondo como um diferencial dentro do gênero do terror, resgatando casos reais do casal Ed e Lorraine Warren (interpretados por Patrick Wilson e Vera Farmiga) e adaptando-os às telonas. Hoje, quase uma década depois e já consolidada como uma série de sucesso, a fábula sobrenatural retorna em mais uma trama vivida pelo casal, mas dessa vez lançada com uma mudança significativa na direção e uma variação notável no estilo e na linguagem. James Wan, diretor dos dois longas anteriores, aqui assina somente produção e roteiro, dando o lugar de comando para Michael Chávez (de 'A Maldição da Chorona'); e como era de se esperar, essa mudança impacta diretamente no resultado final da obra - e isso é ótimo.


Enquanto os filmes anteriores (e também os spin-offs) seguiam em uma crescente até alguma cena grandiosa de exorcismo, aqui essa expectativa é subvertida e o terror sobrenatural, embora continue presente, começa a se transformar em uma jornada investigativa. A grande cena de exorcismo da vez é logo no começo - e é justamente o que movimenta a trama, já que o ritual dá errado. Aqui o exorcismo é uma causa e não uma consequência ou resolução. O subtítulo original em inglês, "The Devil make me do It" (O diabo me fez fazer isso), é bem mais adequado ao clima de jogo de marionetes que o filme propõe do que o ambíguo 'A Ordem do Demônio'. Acompanhamos o caso de Arne Cheynne Johnson, que é acusado de assassinato por múltiplas facadas e alega, perante o tribunal, que agiu estando sob o controle do diabo. Cabe então aos Warren desvendar os mistérios do caso de Arne e investigar o que realmente aconteceu. Em resumo, a produção assume um caráter de suspense policial, um jogo de gato e rato, e abdica do terror em frações que o fazem destoar um pouco dos filmes anteriores. Os jump-scares estão presentes, claro, mas são gratuitos e não agregam grandes valores ao que está sendo contado.

Contudo, 'Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio' consegue ser bom exatamente por ousar ser diferente e investir em dramas mais "pé no chão" (se é que isso é possível nesse universo). Não há uma entidade perseguindo criancinhas e nem uma boneca encapetada brincando de pique-esconde, não; a vilania da vez é humana, mesmo com a invocação ao maligno e a presença de entidades sobrenaturais. E se há algo que mereça destaque nos quesitos técnicos é a fotografia, que assume nesse novo capítulo uma postura mais contemplativa e melancólica do que tensa e assustadora. Ela é bela e medonha, mas digo isso no melhor sentido que essa segunda palavra pode ter. Com uma atmosfera carregada de pesar expressa em paletas de cores que contrastam entre ambientes e ânimos refletores das angústias internas de seus personagens, o novo Invocação é menor, mais contido e menos assustador - mas isso não o torna necessariamente pior do que os anteriores.

Entre sustos majoritariamente previsíveis (e alguns até dispensáveis), dilemas de um casamento atípico, mestres satanistas e encontros com o Elvis antes e após a morte dele, 'A Ordem do Demônio' é o filme mais diferente da franquia 'Invocação do Mal' e é, provavelmente, uma obra atípica que tende a decepcionar parte do público. No entanto, deve-se aplaudir o risco da inovação, para não entregar mais do mesmo e não se prender em sua própria fórmula que já começa a se desgastar. Assim sendo, assista de coração aberto e aproveite o passeio.


Vale Ver!



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