Adsense Cabeçalho

Ailton Graça quer encontrar o novo rei do futebol em 'Correndo Atrás' | 2021

NOTA 7.5

Por Rogério Machado 

Livremente inspirado no livro 'Vai na Bola, Glanderson',  de Hélio de La Peña', 'Correndo Atrás', com roteiro do próprio de La Peña e Jeferson De que aqui também assina a direção, demorou, mas finalmente vê a luz das telas pelas mãos do Telecine. O filme, que tem sua première marcada para este sábado, é uma deliciosa crônica sobre o sonho de grande parte de jovens pelo Brasil afora: ser uma estrela de futebol e mudar suas vidas com isso. Essa identidade com a realidade brasileira é imediata, e a produção usa bem o que tem em mãos para levar essa história ao público. 


Na história Aílton Graça é Paulo Ventania, um trabalhador que vive de bicos  e que  vai tentar de tudo para mudar de vida. Já tendo aceitado diversos trabalhos para conseguir pagar as contas, ele foi de vendedor de bugigangas em sinais de trânsito até animador de festas infantis, mas nada parecia dar certo para ele, que ainda por cima é constantemente cobrado pela ex mulher (Juliana Alves) sobre a pensão do filho.  Com a grana cada vez mais curta, ele tem a ideia de ser um empresário de futebol e se torna um caça-talentos do esporte. É aí que ele conhece Glanderson (Juan Paiva), um garoto pobre e deficiente físico, que apesar das dificuldades, tem um talento incrível com a bola no pé. 

É válido dizer que grande parte das locações e cenários de 'Correndo Atrás' me são muito familiares, uma vez que o filme foi rodado na minha cidade natal, Muriaé (MG), que faz parte do polo audiovisual da Zona da Mata, um celeiro de artistas e empreendimentos culturais. Portanto, existe um vínculo quase que afetivo com a reimaginação da história escrita por De La Peña. É claro que não deixaria isso influenciar nas minhas reais impressões, mas felizmente tenho mais motivos para pontuar êxitos do que deslizes. 

Muito além de uma bela fotografia ancorada em tons quentes e vibrantes, os personagens carismáticos - que têm cancha para assegurarem bons spin-offs e séries -, está a mensagem de 'Correndo Atrás', que não só nos diz sobre representatividade negra mas também sobre apostar nos sonhos e persegui-los. Reside aí um dos grandes acertos do longa, que é fazer se deu protagonista, Ventania, um homem de carne e osso, desses que são cheios de defeitos e pequenos desvios de caráter mas apresentam humanidade suficiente para acertar em cheio o público. O retrato do jeitinho brasileiro somados ao talento de dar a volta por cima com sorriso no rosto e sem perder o rebolado é uma característica que invariavelmente causa empatia na audiência.

Com um elenco em sua maioria composto por atores negros, o longa reafirma a marca de seu realizador, que tem apostado em projetos com representatividade, que dão visibilidade a situações, fatos e pessoas invisíveis. No projeto em questão, a periferia e sua realidade - traduzida em traços negativos e positivos - assim como a força da mulher negra e o reinventar de um povo que busca um lugar ao sol, são características a se observar no cinema de Jeferson De. 

Existem sim alguns exageros envolvendo sobretudo a participação de Lázaro Ramos que poderiam ser descartados em sua forma de abordagem, mas analisando o  todo a obra é mais um feliz capítulo do nosso cinema. 



Vale Ver!



Nenhum comentário