'Lux Æterna': novo filme de Gaspar Noé é projeto ousado sobre amor ao cinema | 2021
NOTA 7.0
Por Rogério Machado
'A maioria dos cineastas hoje são como mortos-vivos e seus filmes são iguais a eles...' Essa citação atribuída a Jean-Luc Godard, lançada na tela entre um frame e outro no novo filme do excêntrico Gaspar Noé, não só parece como na certa é uma alfinetada no modo de se fazer cinema na atualidade, onde as escolhas em geral são pautadas por caminhos mais fáceis e visando somente o alcance das massas. De fácil aliás, essa nova viagem cinematográfica do cineasta não tem nada.
Na trama Béatrice Dalle está na preparação de um novo filme e conversa com sua estrela, Charlotte Gainsbourg, sobre as dificuldades que já enfrentaram nos bastidores do cinema, como mulheres. O filme em produção, retrata simbolicamente o martírio medieval sofrido pelas bruxas, sendo inspirado por "Dias de Ira", de Dreyer. No decorrer da filmagem, o caos se instala e todos perdem o controle ficcional, já não sendo possível discernir o que é realidade e o que é representação.
Selecionado para o Festival de Cannes 2019, o longa em formato de média metragem (cerca de 50 min), é uma parceria entre Yves Saint Laurent e Gaspar Noé, mistura inusitada que deu tão certo que a dobradinha se repetiu em um filme com a estrela Charlotte Rampling. A moda com o proposta ousada de Noé, numa leitura complicada como uma grande torre de Babel, se assemelha aos bastidores dos desfiles, onde o ego disputa espaço com as questões práticas. O tempo todo alguma dificuldade técnica precisa ser solucionada enquanto vamos presenciando a exaltação da sétima arte através de citações como a que abri esse texto.
'Lux Æterna' é provavelmente o filme menos complexo de Gaspar Noé, mas nem por isso o mais palatável, muito pelo contrário, os diálogos são ágeis e a câmera percorre frenética pelo set com atores e figuração se misturando, como numa grande improvisação. Mas nada é mais atordoante que os créditos iniciais e os finais, numa alternância de cores que trocam em questão de segundos. Torna-se impossível a tarefa se assisti-los até o término sem que nossa mente exploda de labirintite. Fica o aviso, até porque quem vos escreve sofre desse mal.
O cinema experimental de Gaspar Noé está mais vivo do que nunca, e dessa vez exaltando o modo de se fazer cinema e seus mestres. Não é um filme para o grande público mas pode atrair aqueles que adoram uma ousadia artística.
Vale Ver!
Deixe seu Comentário: