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'Quem Vai Ficar com Mário?' pleiteia a queda dos rótulos com refinado bom humor | 2021

NOTA 7.5

Por Rogério Machado

O terceiro sexo ainda é um assunto polêmico e não reconhecido na maior parte do mundo. Ainda que o tema seja tratado com discrição no delicioso novo filme de Hsu Chien, é possível notar a investida numa simples inscrição  em uma simpática Kombi que carrega  uma trupe de artistas cuja liberdade extrapola os palcos onde performam. 'Quem Vai Ficar com Mário?', mais uma produção postergada na programação das salas por conta da pandemia, já está entre nós.... e precisamos dizer que o filme é sim uma grata surpresa. 

A comédia nos apresenta Mário (Daniel Rocha), um rapaz de 30 anos que finalmente decide visitar sua família e contar para seu pai, um gaúcho de família tradicional e dono de uma grande cervejaria, que é escritor de teatro - e não um administrador de empresa com MBA como ele pensava - e mora junto com seu namorado, Fernando (Felipe Abib), um dramaturgo. Porém, um acontecimento inesperado adia os planos de Mário, que se envolve com Ana (Letícia Lima), uma coach que seu irmão Vicente (Rômulo Arantes Neto) contratou para ajudar a modernizar os negócios  da família

Com o lema 'nascemos para sermos felizes como somos',  a comédia de situação tem a seu favor o desprendimento com que Chein conduz os temas que opta por abordar. Seja sobre a crítica da família tradicional brasileira, passando pelo machismo estrutural (aqui representado pelo patriarca gaúcho, José Victor Castiel, e seu cunhado puxa saco Marcos Breda), até a razão de ser da obra, que é pregar sobre o amor livre e a quebra de rótulos, a produção alcança êxito ao ir além da representatividade e apresentar uma história com traços inteligentes, que  tem uma estrutura narrativa que, apesar de  se deixar levar em alguns momentos pelo humor pastelão, se destaca mesmo pelas inúmeras referências ao teatro musical e ao cinema clássico e contemporâneo, cujas marcas podem ser notadas facilmente no decorrer da trama. 

Mesmo que recaia em clichês e se apresente literal além da medida no discurso, é inegável o poder de encanto do roteiro feito a seis mãos por Stella Miranda, Luís Salém e Rafael Campos Rocha. Os encontros e desencontros são divertidíssimos, e o famoso jogo de 'gato e rato' promove cenas com refinado humor, cujo texto é permeado de literatura e poesia. 

É interessante notar o crescimento e o ponto de virada de 'Quem Vai Ficar com Mário?', que tinha tudo para cair no lugar comum do romance gay com toques cómicos, mas vai muito além disso, entregando uma mensagem que nos diz sobre liberdade, feminismo e auto aceitação. Para finalizar, não poderia deixar de mencionar a presença garbosa de Nany People, que protagoniza boa parte das cenas que hão de ficar marcadas quando lembrarmos do mais novo filho de Hsu Chien. 


Vale Ver!



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