Adsense Cabeçalho

A nostalgia agridoce evocada em 'Viúva Negra' | 2021

NOTA 9.0

Assobios, vagalumes e poses heróicas (ou simplesmente 'Meu Passado Me Condena: Versão Gringa')

Por Vinícius Martins @cinemarcante 

Quando foi apresentada em 'Homem de Ferro 2' , no final de abril de 2010, Natasha Romanof era uma coadjuvante promissora que roubou a cena com suas poses volupiosas e golpes em combate corpo a corpo. Após 'Os Vingadores', em 2012, não demorou muito para que o público visse nela o potencial de uma protagonista, dada a pluralidade de histórias não contadas envolvendo o misterioso passado da espiã que foram comentadas por alto com Clint Barton. E 10 anos depois de sua estreia no MCU (11, na verdade, mas vamos considerar a data original da estreia), a personagem finalmente ganha seu merecido longa-metragem próprio, que se dedica a desvendar a psiquê da heroína abrindo seu berço familiar e desenvolvendo os traumas que a tornaram a salvadora que conhecemos.

Depois da revelação do destino de Natasha Romanof em 'Vingadores: Ultimato' (2019), revisitar a personagem em um filme solo é um sentimento conflitante. Intimamente, encaro esse filme como o 'Rogue One' do MCU; já sabemos o final de antemão, mas ainda assim torcemos pelo sucesso da missão e nos envolvemos com os personagens de modo a lamentar seus problemas pessoais que, tecnicamente, não importam mais. Contudo, fica a impressão de que essa obra é um reconhecimento do próprio estúdio de que falhou com a personagem em vida, e se aproveita da popularidade crescente dela após seu derradeiro destino para apresentar novos personagens que teriam feito uma enorme diferença nos eventos dos últimos dois filmes dos Vingadores mas que, até agora, não foram relevantes em nada (tenho a mesma sensação em relação ao vindouro 'Os Eternos', mas vamos deixar pra falar sobre isso em novembro).


Se extrairmos 'Viúva Negra' do seu contexto serial, encontraremos um filme de ação com elementos que vão da seriedade urgente de 'Missão: Impossível' até às acrobacias mirabolantes de 'Velozes & Furiosos', já que aqui também nota-se que capotamentos, atropelamentos e tiros dados pelos adversários também não tem nenhuma gravidade narrativa; afinal, todo mundo sai andando como se nada tivesse acontecido. Ah, sim, e o próprio conceito de família discutido aqui parece ter sido inspirado em algum discurso de Toreto. Independente disso, o filme isoladamente é funcional e dinâmico, mas é dentro do universo a que pertence que ele brilha de fato.

'Viúva Negra' é um detalhamento enriquecedor ao MCU. Um ponto que vale destacar é a conexão do primeiro filme de equipe dos Vingadores, onde Natasha e Loki se confrontam intelectualmente no casulo de segurança da nave de Fury. Nesse momento Loki fala sobre incidentes passados da Viúva, citando algo envolvendo São Paulo, crianças e... Dreykov! Sim, o principal antagonista do filme foi citado lá atrás, em mais uma das inúmeras amarras do MCU. Mas nem tudo é redondinho, é claro. Tem algumas falhas e pontas soltas (como o desfecho da protagonista com o general Ross, sendo que este nunca a deixaria escapar e não fica claro se ela ela foi presa e fugiu ou se houve algum acordo entre eles), além do fato de que aparentemente ninguém reconhece o rosto de Natasha (sim, uma vingadora que é capa de revista) ao redor do mundo.

Curiosamente, o filme é um drama familiar travestido de ação absurda. A intimidade entre a protagonista e a família é o ponto mais alto da produção, e embora David Harbour e Rachel Weisz estejam excelentes em seus respectivos papéis, quem brilha mesmo é Florence Pugh (de 'Midsommar' e 'Adoráveis Mulheres', esse último lhe rendendo uma indicação ao Oscar na categoria coadjuvante), que tem se mostrado uma das melhores atrizes da nova geração. Sua performance como Yelena Belova é comovente, e suas micro feições enquanto reage às interações é algo que transborda da tela e promove a empatia em meio ao caos - e confesso, me arrancou um suor ocular em uma cena com David Harbour.

Por fim, com o retorno ao passado auto-condenatório de Natasha e a resolução de seus fantasmas internos, o público pode degustar um pouquinho mais dos dilemas morais que a personagem enfrentava e, assim, compreender suas motivações nos eventos que se seguiram. Desse modo, nos tornamos mais íntimos da mulher icônica interpretada por Scarlett Johansson e vamos além da mera menção a Budapeste. Seja com o assobio que espera ser respondido, os vagalumes que antecederam mudanças drásticas ou as poses 100% naturais do "pouso de super-herói" do qual Deadpool tanto falou em seu filme em 2016, fica a alegria de rever uma velha conhecida e, ao mesmo tempo, uma tristeza estranha por constatar que as interações construídas no filme não terão uma sequência. Afinal, um filme que começa com uma releitura trágica (e linda) de Smells Like Teen Spirit tem tudo para deixar o agridoce saudosismo perante um retorno para o adeus.

PS: para entender a cena pós créditos é importante ter assistido 'Falcão e o Soldado Invernal' série disponível na Disney+ que também pertence ao Universo Cinematográfico Marvel.


Super Vale Ver!



Nenhum comentário