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A subversão da própria trama em 'Rua do Medo - Parte 3: 1666' | 2021

NOTA 9.0

Um filme dentro de um filme

Por Vinícius Martins @cinemarcante 

Por mais notável que seja o caráter episódico dos filmes da trilogia 'Rua do Medo', deve-se convir que os três longas-metragens são uma totalidade bruta em fragmentos de duas horas. Não cabe aqui o argumento de que um filme deve se bastar por si só, e os produtores reconhecem isso ao dedicar os primeiros minutos deste último filme, '1666', a recapitular os dois capítulos anteriores.


A trilogia, que se iniciou com um tributo à franquia 'Pânico', termina agora com outro tributo, de certo modo; isto é, enquanto no primeiro havia as referências visuais, neste último se encontra um espírito de subversão que é bastante característico dos filmes do Ghostface de Wes Craven. É delicioso acompanhar as descobertas e reviravoltas pelo mesmo ângulo de Deena, que dessa vez encarna a dita bruxa Sarah Fier em uma viagem astral/temporal (perdoe-me a falta de um nome técnico para isso), enquanto ela conhece a verdade por trás do mito da bruxa a quem tanto temeu. Contudo, o episódio final se divide ao meio para concluir o arco principal da trilogia, e o núcleo de 1666 é evoluído de modo acelerado, com um plot-twist que vai se tornando previsível nos minutos que o antecedem - mas que ainda assim não deixa de se posicionar como um piegas 'Scooby-Doo', onde a revelação da vilania é seguida de explicações do plano macabro que foi pincelado com pistas sutis nos dois filmes anteriores - e isso é muito bom!

O fato de Janiak (a diretora/roteirista) brincar com a perspectiva e subverter o que construiu nos outros dois filmes é louvável, mesmo não sendo inovadora. Janiak assumiu riscos consideráveis ao perverter a própria história que criou, e a surpresa que saiu disso foi uma divertida brincadeira de gato e rato. '1666' é um final digno para uma trilogia engenhosa como a construída aqui. 'Rua do Medo' não está livre de erros ou alguns furos, mas conseguiu entregar a essência daquilo que prometeu: um entretenimento pesado e assustador ("assustador" não necessariamente por conta de jump-scares, mas pela faceta maligna de uma força aparentemente imbatível), com traços de aventura adolescente à lá John Hughes e Richard Donner, e uma mensagem necessária para o hoje assim como era para 1994, 1978 e 1666. Embora tenha todos os elementos do horror tradicional, é mais justo classificar a antológica trama de 'Rua do Medo' como uma história de amor.

Ao dialogar com assuntos pertinentes à juventude e ao respeito à vida alheia, o espetáculo que a trilogia mostrou ser é um marco do gênero que muito provavelmente resistirá ao tempo e será lembrado com louvores por amantes das várias vertentes do terror que esses filmes prestaram reverência. Seja pela presença intimidadora provocada por indivíduos mascarados ou pelos sanguinolentos assassinatos retratados aqui, o cinema slasher respirou um bom fôlego para continuar vivo - e tomara que continue mesmo.


Super Vale Ver!



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