'Céu Vermelho-Sangue' - Quando a fórmula funciona (ou não) | 2021
NOTA 6.5
Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica
Em janeiro deste ano a Netflix adotou uma estratégia ambiciosa e arriscada. Não satisfeita com o investimento massivo na temporada de premiações, a plataforma anunciou um lançamento original por semana em 2021. O que parece apenas uma aposta certa do ponto de vista comercial, é um verdadeiro tiro no escuro quando se trata de qualidade. O fato do serviço possuir um número de assinantes próximo de 200 milhões, a empresa assegura o mínimo de conforto quanto ao retorno esperado. Com isso, adicione a utilização de algorítimos para entender seu público, e temos aí o grande perigo de enredos genéricos e pouco inspirados, afinal, trabalhar com referências e clichês não é uma questão de grana e sim de talento.
'Céu Vermelho-Sangue' é uma produção alemã dirigida por Peter Thorwarth, que também divide os créditos de roteiro com Stefan Holtz. Na história acompanhamos a misteriosa Nadja, que viaja com seu filho aos EUA para o tratamento de uma doença, até que um grupo de terroristas sequestra o avião e ela precisa revelar seu terrível segredo para proteger seu filho.
Tramas envolvendo aeronaves não são novidade, longe disso, é quase um subgênero que se encaixa nos mais diversos gêneros, da ação até a comédia. Somado ao recurso do sequestro temos um terreno fértil de clichês, para o bem e para o mal. Em 'Céu Vermelho-Sangue' quase todos são bem utilizados, e ainda no primeiro ato o elemento fantástico é inserido, tirando o longa do lugar-comum com uma boa dose de originalidade.
O filme capricha no mistério, plantando pistas discretas antes de cada revelação, porém, perde um pouco a mão quando utiliza flashbacks preguiçosos cheios de obviedades e não se aproveita do recurso para maior conexão com a protagonista e seu filho. Facilitações narrativas e erros de continuidade podem diminuir o engajamento, tamanho o descuido que erros como esse evidenciam a fraqueza de um roteiro, mas ele recupera alguma força ao dar um ritmo dinâmico às revelações, entregando as peças na hora certa e renovando não só o interesse como a tensão e o senso de urgência.
Por se passar majoritariamente em um único local, o filme faz bom uso de ângulos para ampliar a atmosfera claustrofóbica, explorando bem os corredores estreitos com movimentos de câmera simples, além da câmera subjetiva que contribui para o melhor aproveitamento dos espaços. Destaque também para o ótimo trabalho de maquiagem, que acompanha a progressão narrativa, começando com o estranho e chegando ao bizarro de forma gradual, inclusive fazendo clara referência visual ao clássico 'Nosferatu', marco do cinema alemão de 1922.
Em se tratando de atuação, não há muitos destaques. Graham McTavish é sub-aproveitado e Dominic Purcell, outro nome conhecido do grande público, praticamente repete seu papel de 'Prision Break' e está apenas operante. O protagonismo é de Peri Baumeister, atriz alemã que faz ótimo trabalho corporal e apesar das muitas camadas de maquiagem também convence nos momentos dramáticos. O mesmo não se pode dizer do vilão, vivido pelo ator Alexander Scheer, que num excesso de maneirismos, transforma seu personagem em uma verdadeira caricatura, uma atuação de uma nota só, mesmo com todo processo de transformação atribuída a ele.
'Céu Vermelho-Sangue' aposta num desfecho que beira o melodrama, o que não é exatamente ruim, mas com certeza irá dividir opiniões. Um risco que a Netflix com suas decisões comerciais tem muito bem calculado. Dentro dessa fórmula, ocasionalmente a criatividade encontra algum espaço e nascem boas opções de entretenimento, como essa produção alemã, que não emociona, mas também não chega a decepcionar.
Vale Ver Mas Nem Tanto!
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