Os sonhos partidos de uma comunista em “Caros Camaradas - Trabalhadores em Luta” | 2021
NOTA 8.5
Por Eduardo Machado @históriadecinema
Dirigido pelo veteraníssimo Andrei Konchalovski, “Caros Camaradas – Trabalhadores em Luta”, é um drama histórico angustiante ambientado na pequena cidade de Novocherkassk na URSS. Julia Vysotskaya interpreta Lyuda, uma líder local do partido comunista, que vive com a sua filha, a adolescente Svetka (Yulia Burova) na cidade.
Firme nos ideais socialistas, sua devoção aos propósitos do partido é posta à prova, quando estoura uma greve em uma fábrica na cidade. O exército e a KGB respondem com tiros e mortes para todo o lado. Enquanto as autoridades correm para encobrir as atrocidades que foram cometidas por agentes do Estado, Lyuda procura por sua filha, que, a essa altura e diante de tanta violência, ela não sabe mais se está viva.
Konchalosvsky e seu diretor de fotografia, Andrey Naydenov, criam a atmosfera perfeita. A fotografia em preto e branco que nos inebria a cada quadro e os cenários meticulosamente pensados nos ambientam naquele caos, mas um caos de paradoxal quietude. A pacificidade das imagens contrasta com a profusão de eventos que se desenrolam, amplificando o impacto do filme. Como se a embalagem não condissesse com o conteúdo. Como, de fato, era a realidade na URSS.
Mais do que o cenário histórico, é a história pessoal de Lyuda que, definitivamente, nos prende à tela. Vysotskaya tem atuação exuberante, capturando os sonhos e a desilusão de um personagem que se esforça para reprimir, ao invés de expressar suas emoções, oferecendo uma face firme para o mundo mesmo quando confrontada com uma realidade inimaginável
O que somos nós sem as nossas ideologias? Mais do que uma letra de música do Cazuza, uma ideologia, muitas vezes, é a chama que nos mantém acesos em uma realidade fria. Todos queremos acreditar em um sonho qualquer. Assim, podemos não nos ver em todas as vítimas de Novocherkassk, que parecem distantes, mas certamente nos enxergamos nas dúvidas e desilusões de Lyuda, mais familiares do que parecem.
Vale Ver!
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