'Música Para Quando as Luzes se Apagam' : docuficção é marcado pela liberdade criativa | 2021
NOTA 7.5
Por Rogério Machado
Nem sempre a liberdade de criação é compreendida. A metalinguagem no nosso cinema ainda é um recurso que encontra algumas barreiras, principalmente em se tratando de alcance. O grande público dá preferência para as comédias midiáticas e franquias com apelo popular, e o cinema de autor tem que se abrigar em pequenas salas de arte, com audiência reduzida.
Hibrido de ficção e documentário, 'Música Para Quando as Luzes se Apagam', que depois de uma longa espera chegou às salas de cinema na última quinta feira, é uma história de libertação e autoconhecimento tendo como condutora a sempre competente Júlia Lemmertz. A narrativa encontra algumas dificuldades principalmente pela pouca desenvoltura da personagem real que se torna uma espécie de pupila, uma missão de Lemmertz ao encarar o desafio de lapidar uma pedra bruta.
A história se passa no sul do Brasil, onde uma autora (Lemmertz) se direciona a uma pequena vila onde pretende trabalhar. No local, ela deseja fazer uma narrativa ficcional sobre a vida de Emelyn, uma adolescente que vive o drama de ser incompreendida por ser transsexual em uma comunidade do interior do país. Provocada pelas câmeras da autora, através de longas conversas sobre diversos assuntos, Emelyn vai se tornando Bernardo, um jovem dividido entre viver seus maiores desejos ou continuar apenas na vontade idealizada.
À frente da direção pela primeira vez, o gaúcho Ismael Caneppele, um ator e roteirista envolvido em projetos ousados como o recente 'Verlust' (2020) e a série Global 'Desalma', disponível no Globoplay, imprime um aspecto autoral e atraente em seu primeiro trabalho solo, mas o desenvolvimento orgânico não é suficiente para driblar o ritmo arrastado e a pouca habilidade de Emelyn em se deixar levar pela proposta lúdica na abordagem de Júlia Lemmertz.
De toda forma, há de se considerar a mensagem cristalina sobre liberdade e resgate da identidade num formato experimental e poético que mais uma vez reafirma o quanto o cinema dos pampas ainda tem por mostrar. 'Música Para Quando as Luzes se Apagam' tem o poder de transpor barreiras em um país voltado ao preconceito e à falta de empatia.
Vale Ver!
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