Os efeitos da psicanálise na odisseia amorosa de duas mulheres são retratados com bom humor em 'Sibyl' | 2021
NOTA 8.0
Por Rogério Machado
Esse parece ser mesmo o ano das mulheres no cinema. Entre tantas produções represadas por conta da pandemia, que começaram vir até nós com a reabertura dos cinemas, como por exemplo - só pra citar um exemplo midiático -, o ganhador do Oscar 2021, 'Nomadland', estrelado e dirigido por mulheres. 'Sibyl', que chega essa semana aos cinemas, é uma trama que não só é levantada por mulheres, como também trabalha dentro de um microuniverso que diz respeito a elas. A visão pode ser estendida a todos, mas de fato a abordagem da psiquê humana no tema em questão fica ainda mais atraente dentro do contexto feminino.
Pegar carona na vivência alheia de gente próxima para escrever o best seller da vez, não é exatamente um mote inédito na dramaturgia, recentemente Meryl Streep fez isso com a melhor amiga na comédia dramática 'Let Them All Talk', produção da HBO. Aqui, o que acaba abrindo o leque de ofertas interessantes proposto pela diretora Justine Triet ('Na Cama com Victória' - 2017) é o mar de emoções em que nossa protagonista navega ao ter que administrar um caso antigo e o vício pelo álcool. Enquanto se aproveita do drama de sua nova paciente, ela percebe que tem muito a ser tratada através da história complicada de Margot - não só no desenvolvimento de sua profissão mas também para realinhar o relacionamento com o marido e os dois filhos. É como se sua nova obra prestes a sair do papel fosse um espelho pelo qual seria terrível ficar se encarando.
Usando artifícios de metalinguagem, o filme acaba se inserindo dentro do filme, e é aí que o drama em potencial, abre caminho para uma comédia funcional que flerta com o caricato, a repetição e o exagero, que aliás é o que, apesar de entreter e arrancar risadas, destoa ligeiramente da primeira parte da projeção. É aquela velha faca de dois gumes que acaba logrando êxito por conta do talento das atrizes envolvidas no projeto. Virginie Efira tem estrada em se tratando de humor, e o ar blasé da Adéle de sobrenome quase impronunciável criam extremos que se complementam, tornando a experiência não só divertida como também capaz de fomentar debates interessantes acerca de dependência emocional, manipulação e autoconfiança.
'Sibyl' figura entre os raros casos em que uma receita de bolo simples e corriqueira, funciona melhor para o paladar do que um menu rebuscado e com muitos ingredientes. As referências ao cinema de Bergman e Godard são boas sacadas que remetem aos áureos tempos da Francofonia. Ponto para a realizadora. Ponto para a mulher no cinema.
Vale Ver!
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