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“Slalom – Até o Limite”: uma história de abuso e ambição sobre esquis | 2021

NOTA 7.5 

Por Karina Massud @cinemassud 

Abusos sexuais e psicológicos entre treinadores e atletas não são raros no meio esportivo de elite. Em “Slalom- Até o Limite”, conhecemos a história de Lyz, uma jovem de 15 anos que entra para a famosa equipe do colégio francês Bourg-Saint-Maurice. Lyz parecia uma atleta inexpressiva, mas o rigoroso treinador Fred, um ex-campeão, enxerga seu grande potencial e foca no talento da garota, exigindo cada vez mais da sua performance. No entanto a relação profissional intensa se transforma em abusiva, o tesão vira violência e desprezo, chegando às vias de fato, o estupro.

A trama é baseada parcialmente nas experiências da diretora Charlène Favier e é claramente uma catarse dos abusos sofridos por ela. A atmosfera é de suspense, pois a cada treino na piscina, academia ou na neve, ficamos na expectativa de uma nova investida do treinador carrasco; o sexo e o medo estão sempre presentes. As pressões são muitas: dos pais de Lyz que sem pudores dizem não poder cuidar dela apropriadamente e deixam  à própria sorte, sempre salientando o quanto se sacrificaram por ela.  A pressão pela vitória para a tão sonhada ida aos Jogos Olímpicos – o sucesso é um apelo irresistível, mas será que vale trocá-lo pela tolerância ao abuso?

Visualmente o filme é lindo. A pureza do branco da neve em planos abertos contrastam com as sombras das cenas sórdidas de violência.  Noée Abita vive Lyz de forma extraordinária, com o rosto fechado e triste, abandonada emocionalmente e sentindo o peso do sucesso. Jérémie Renier também está ótimo como o treinador predador que oscila entre a ternura, o acolhimento e a rispidez, a fim de tirar o máximo de sua atleta; e ele ataca sem que haja testemunhas, pois de bobo não tem nada.

Ao contrário da maioria dos dramas esportivos que retratam trajetórias de superação e foco no sonho da medalha, essa é uma história de ascensão profissional e queda moral - quanto mais se sobe ao pódio mais se desce ao inferno emocional. Não é normal um treinador ver a primeira menstruação de sua pupila com ar de tesão ou colocar as mãos ao redor de sua cintura com sensualidade num close muito revelador. Essa face sombria do esporte existe, é velada e muitas vezes passa impune em nome da vitória. A abominável cultura do estupro que culpa a vítima bonita e sensual, como se ela estivesse pedindo pelo assédio também vem à tona. A menina tinha libido como qualquer outra adolescente, mas o treinador tirou proveito disso e o estupro é indiscutível. No entanto, o roteiro em certo momento parece caminhar para um clima condescendente com o treinador e não com sua punição, o que parece abominável para qualquer espectador.

“Slalom – Até o Limite” foi selecionado pro Festival de Cannes, passou pelo Festival do Rio no Telecine e está em cartaz em algumas salas pelo país. É um filme belo e necessário, porque somente com informação as vítimas entendem que não estão sós e tomam coragem para denunciar abusadores. Basta de impunidade. 


Vale Ver!





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